segunda-feira, 9 de abril de 2012

DEPOIS DO ALMOÇO, NO JUNDU


                Os ranchos de canoas sempre ficaram no jundu, juntamente com os varais de redes. Quase sempre depois do almoço, quando havia rede para consertar, havia alguns pescadores por ali trabalhando. Afinal, qual o valor de uma rede furada, desequilibrada nos pesos e boias?
               Os últimos ranchos da praia do Cruzeiro se localizavam onde hoje está a pista de skate da juventude. Lembro-me bem do rancho do Fifo. Era um ponto de encontro; lugar de muitos causos e risadas.
                Foi lá que eu escutei, pela boca do Paca, isto:
               “Numa época de tainha, nos dias da lua cheia, o Fifo reuniu mais de seis camaradas no rancho para cercar um cardume considerável na baía. Vendo que era cedo ainda, ele deu a seguinte recomendação:
             ‘Descansem um pouco, mas acordem e desçam a canoa antes da saída da lua, senão... os peixes ficam ariscos, enxergam melhor; a gente perde a noite. E hoje ela tá boa!’. Depois dessas recomendações, o Fifo foi em casa resolver uma questão de família. Atrasou. Chegou bem depois todo espavorido. Acreditava que os camaradas já estavam na água, com cerco em andamento. Afinal, a lua brilhava intensamente no céu. E aí a surpresa. A má surpresa! Todos dormiam pesadamente sobre as tralhas de rede, pelas canoas do entorno. Na mesma hora, depois de dar uns berros, o homem desabafou: ‘Onde já se viu isso!? Uns homens novos, todos fortes assim! E deixaram a lua sair?’. Todos caíram na risada, pois ainda não nasceu ninguém capaz de segurar a lua. Acabou-se a pescaria naquela noite”.

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