segunda-feira, 25 de julho de 2011

Vizinhos e História (I)


         Os meus vizinhos Jean e Lucimar, num dia desses, depois de irem a um restaurante no centro da cidade, trouxeram um folheto que citava o alemão Hans Staden e a sua passagem por aqui no século XVI. Acharam ótima a ideia do comerciante (talvez outros pudessem imitar o estabelecimento que através daquela história se divulgava) e deram-me a sugestão de falar um pouco mais sobre esse e tantos outros aspectos da História de Ubatuba.  Então, dentro do espírito deste blog, conforme apresentação na página inicial desde o primeiro incentivo doméstico, estou “pincelando causos e fatos” que permitem entender cada vez mais o universo caiçara.
         Neste território, hoje conhecido como Ubatuba, viviam, na época da invasão portuguesa, francesa, holandesa etc., os índios  Tupinambá que, segundo os historiadores, ocupavam uma faixa de terra desde esta região até a Baía da Guanabara (RJ). Tinham como vizinhos, ao Sul, mais precisamente na Baixada Santista, o grupo Tupiniquim. Ao Norte, na porção dos lagos fluminenses, os limites eram com a nação Goitacaz. Outros vizinhos mais do interior, do planalto: Aimoré, Tremembé, Goianá, Camanducaia etc.
         Todos esses grupos indígenas viviam numa sociedade primitiva, num modelo que não conhecia outro modo de produção que não fosse o de caça e coleta, além da mínima cultura de subsistência. Isso vale dizer que não tinham a preocupação em acumular, em edificar monumentos ou escravizar outros povos para obter riquezas.  
         Os povos indígenas da costa brasileira, por serem de origem Tupi, tinham um mito em comum: a crença numa Terra sem males. Isto prova que todos os seres humanos idealizam uma situação de vida para  justificar a sua existência. É de onde decorrem as divindades, os rituais e a produção cultural que irão possibilitar o acesso ao paraíso sonhado nos primórdios.
         Onde poderia estar a Terra sem males?
         A lógica é simples: se o Sol é o bem maior que os homens têm, aquele que permite a vida para tudo, então é natural cultuá-lo como a suma divindade. Mas onde é a moradia desse deus, a sua casa que é o paraíso? Perseguindo essa busca, os grupos nômades chegaram à margem do grande mar (Atlântico); não havia como avançar mais. Foi o que os fez se fixarem por aqui, mais próximo do deus-Sol a cada manhã. Este é o coroamento das premissas:  assim que deixa a sua casa, ele (Sol) já nos enxerga e nos cumula de bênçãos. Portanto, a casa dele é depois do mar, além do horizonte, num lugar onde as igaras (canoas) não conseguem atingir.
         Era de se esperar que povos com tal mito se tornasse presa fácil dos invasores, dos aventureiros sedentos por lucro fácil, à custa da exploração da posse e do trabalho alheios. Não posso omitir que os sedentos portugueses estavam esfomeados pelas terras que lhes pertenciam antes mesmo de 1500, conforme o Tratado de Tordesilhas assinado em 1494, onde o mundo foi dividido entre as duas nações católicas: Portugal e Espanha.
         Resumindo esta parte: os navegadores, apesar de barbudos, fedidos e em estados físicos lastimáveis após tanto tempo de travessia, eram especiais (representantes da divindade maior) porque vinham do lugar onde o Sol morava.
          Parando por aqui: quem é adorado já é um dominador, controla alguém.

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