quinta-feira, 21 de julho de 2011

Nem céu, nem inferno

         Em outras ocasiões eu já contei das lições, da doutrina da tia Maria da Barra. Espero que ninguém desconheça, por exemplo, dos Judas (Matadeus e Carioca), já publicado há alguns meses.
       Morando no jundu da praia da Fortaleza, a titia sempre adorava contar causos com um toque religioso. Afinal, foi desse modo, pela tradição oral, que se forjou a religiosidade bonita do ser caiçara. Neste momento retorno no tempo para que todos aprendam a lição do purgatório segundo a minha saudosa parenta.
       Desde cedo estávamos acostumados a ouvir a palavra purgatório;  sempre  a associamos  ao inseto (pulga), pois era comum os comentários das “marcas de purga” nas roupas. Ainda bem que a titia assim me esclareceu:
       - Não seja bocó! Coisa antiga é  o purgatório! É céu de segunda catigoria. Desse modo compreendi adespois da pregação do padre João.
       - Como assim, titia?
       - Bote reparo no que vô dizê: o vosso tio me trocô por’otra; agora vive no Cedro. Ainda não sei quem vai falecê na frente: se ele ou eu. Caso seja ele, é certo que não vai pro céu, mas também no inferno não é o lugá dele (porque não é tão mardoso anssim). Então, egiste o purgatório pra gente anssim, pra caso como o do vosso tio. De lá, adespois de bastante reza minha e da otra, de oferenda para a ingreja, passando uma temporada, ele sobe pra junto de Nosso Senhor Jesuis Cristo; fica no céu pra sempre.
       - Então, titia, na verdade o purgatório é um inferno fraquinho!
       - É isso, minino! Desdigo o que disse e digo de novo: purgatório é um inferno de segunda catigoria! Aprendeu agora?

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