terça-feira, 31 de agosto de 2021

QUEM SEMEIA VENTO...

 

  

Meu ipê florido na calçada - Arquivo JRS

   Agora, postado no terreiro, admirando os ipês floridos, pensei: “Como passa rápido  o tempo! Parece que foi ontem que peguei aquelas duas pequenas mudas e plantei na calçada, logo ali”. Estão lindos! Pena que as floradas durem poucos dias.

    Certa vez, debaixo de um ipê assim, cheio de flores amarelas, mas muito maior do que os que agora estou admirando, fiquei escutando umas coisas diferentes, engraçadas, parecendo até mentira. Mas eram verdades! Quem me garantiu foi Antônio Neves, mestre de bate-pé em meados do século passado, até quando casou-se com Isabel. Ele contava de um caiçara antigo de intestino “muito zangado, que peidava muito”. Já comecei a rir.  O tal Maneco Floriano, segundo o Neves, “não era um peidorreiro qualquer, desses que pretendem aparecer mediante qualquer barulhinho. Maneco era bom mesmo! Tinha uma habilidade notável nos tais fluídos. Era da prainha do Costa, primo do João Manoel. Você tinha de ter visto ele se concentrando para imitar um galo cantando  enquanto a gente esperava, no maior silêncio, algum sinal do espia para largar a rede em cardume de peixes. Pensa em alguém talentoso! E, ainda por cima, fedido demais! Acho que aquele homem tinha entranhas de urubu”. Achei engraçado, mas não duvidei. Peidão por peidão, nós tínhamos o tio João Barbudo que chegava bem cedo soltando seus rojões antes mesmo de nos desejar bom dia ou de abençoar a sobrinhada. Mas ter afinação de galo cantando era demais!

     Os “puns” resultam de reações químicas resultantes do trabalho das bactérias da flora intestinal. As características desses gases dependem dos alimentos que consumimos. Os mais velhos diziam que repolho, frutos do mar e feijão causavam muitas flatulências, punham para correr todo mundo que estivesse ao redor.

    Quando eu quis saber desse homem, Antônio me respondeu: “Morreu na época daquela tormenta forte, quando Ismael e outros também morreram no mar durante uma pescaria de sororoca. Quem semeia vento, só pode colher tempestade”. Não pude deixar de rir ainda mais diante do ditado que ele foi buscar para ilustrar esse tal Maneco e a sua particularidade bem singular. Me desculpe  pelo assunto, mas eu não resisti em contar esse detalhe da vida caiçara recordada sob um ipê florido. Imagine afinação de galo cantando naquele lugar onde a costa muda de nome. Essa foi muito boa!

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