quarta-feira, 18 de agosto de 2021

ANTÔNIO DA MATRACA

Pescador caiçara - Arquivo Trindadeiros


     O saudoso Sabá, o Mestre Sabá,  cujo nome real era Silvério, vendia peixes, na década de 1970, empurrando um carrinho de mão. Geralmente passava nas ruas anunciando em claros berros: "Olha a sardiiiiinha....Vai carapau, hoje?...Olha o olheeeeete... Tudo fresco...Se debatendo, caindo no chão". Eu ria demais, achava engraçado aqueles anúncios naquela voz agradável do Velho Sabá. Ao adentrar no bar, onde eu trabalhava, ele primeiro dizia "Olha o peixe" para depois desejar "Bom dia, Zezinho!". Quase sempre a sua parada era para comprar cigarro, daqueles sem filtro - Continental, Kent, Mistura Fina... - e tomar água gelada, mas se demorava um pouco porque gostava da atenção que eu lhe dava, valorizava suas prosas, especulava o que podia. Ressalto que este é meu costume até hoje.

     Foi o Sabá quem me contou do Antônio da Matraca: "Você já ouviu falar? Pois bem! Mas já tem um tempo que ele é morto. Antônio da Matraca era paratiano, mas veio moço para Ubatuba. Trabalhava  no casarão do Guisard e fazia anúncios, propagandas, em suas folgas. Andava pelas ruas aos gritos. Ele, sim, tinha voz forte, potente, do tipo trovoada brava. E ainda por cima, pegava uma matraca e saía sacudindo, chacoalhando pelo centro da cidade de forma bem caprichada. De repente, parava em uma esquina e anunciava os produtos e os pontos de comércio onde havia para negociar. Não havia como não escutar o Antônio da Matraca". Conforme ele falava, eu imaginava a cena, com pessoas prestando atenção no que era anunciado. "Era uma forma de reclame muito eficiente", confirmou o Sabá. Então eu lhe sugeri: "Por que você não arruma uma matraca homem? Vai fazer sucesso!". E não é que o danado arranjou uma matraca não sei de onde!? Daí em diante, nos acostumamos a ouvir e ver mais animação no nosso vendedor favorito de peixes. Viva Sabá! Viva toda a descendência dele! 

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