sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

QUANDO O MAR COBIÇOU A PEDRA DA IGREJA

Sol acordando (Arquivo JRS)


   Tio Maneco Mesquita, homem tranquilo toda vida, de vez em quando ajuntava a criançada para contar histórias. Era marido da tia Bertolina, moravam bem perto do rio. Durante as contações do titio, o barulho da água escorrendo entre as pedras e o vento nas folhas das bananeiras serviam de fundo musical.

    - Escutem, crianças o que eu tenho para dizer agora: houve um tempo em que o mar já esteve por aqui tudo. É por isso que, quando a gente cava um buraco perto do brejo, se encontra um monte de conchas diferentes. Parece que ele recuou para o lugar que está hoje faz muito tempo. Os antigos contavam o causo de uma intriga entre o mar e a terra por causa da Pedra da Igreja. Era ali o ponto da maré mais alta. Vocês imaginam isso? Olhem lá no morro. Vejam a distância que ela está do mar! Não é impressionante?  Mas o mar não estava satisfeito em apenas alcançar aquele ponto poucas vezes por mês. Ele queria viver permanentemente ali, cobiçava aquela enorme toca para as garoupas e meros viverem. Só que a terra seca achava o mar muito abusado, querendo tudo. Assim ela procurou um jeito de acabar com a cobiça dele. Foi semeando naquele morro inteiro pés de urtiga vermelha. As moitas se espalharam como praga, até debaixo da Pedra da Igreja elas proliferaram. Com isso, o mar subia na maré cheia, mas nenhum peixe queria passear por ali por mais que o mar insistisse. A terra continuou fortalecendo as plantas que afugentavam os seres marinhos. E assim foi passando o tempo até que o mar esqueceu de tudo, deixou de querer aquele lugar e foi recuando, recuando, recuando... até parar na Ponta da Fortaleza. E continua lá até hoje! Papai tinha um espinho gigante de peixe que servia de travessa, onde ficava dependurado os panos de rede e samburás, no corredor. Dizia que era herança, foi de seu avô que encontrara, quando ainda era criança, debaixo da Pedra da Igreja. Se era mesmo, devia ser um peixe muito grande. Sabem de uma coisa? Passando este tempo escuro, quando o sol estiver bem acordado, vou revirar o monturo, procurar o tal espinho. Quero mostrar a vocês aquela baita coisa para confirmar essa história antiga.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário