segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

O PSICOPATA

Patinhos no quintal (Arquivo JRS)


         


     Waldomiro, o Miro, zelador da piscina municipal, é caiçara, gente dos Ballio, originário lá da praia da Justa, onde se localizava até a segunda metade do século XX um posto de telégrafo. Muitas vezes pedalamos alguns quilômetros juntos, a distância da cidade até o nosso bairro. Somos vizinhos. Gente boa de prosa é o Miro. Foi quem me contou esta história que faz parte da vida dele:

     -  Tinha uma época, quando eu estava por volta de dez para doze anos. Ai...eu odeio pato. Não posso ver pato na minha frente. Tinha as patas com os patinhos... Eu olhava assim, tudo novinho...eu matava tudo... os patos... matava tudo afogado.

      - Você é um psicopata!

    - Isso... Pode ser. Um dia eu cabulei uma aula e tava lá no rio tomando banho... quando vi os patinhos "quá, quá, quá..." Eu era o capeta, cara... Matei tudo. Quando eu olhei para trás, o meu pai... Meu pai pegou e deu uma surra em mim. Eu andei uns cem metros apanhando. O que eu  apanhei... Fiquei com marcas no corpo por um mês.

   - Aí você não matou mais?

   - Nunca mais. Só que eu odeio pato. Não como pato. Vou na roça e vejo assim, no almoço... eu pergunto: "é frango ou é pato?". "É pato". Não como! Não como pato, odeio pato.


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