quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

ESCUTANDO QUASE DIREITO

 

Amanhecer sobre a ilha do Tamanduá (Arquivo JRS)

Vovó envelheceu e ensurdeceu.

Gostava de novelas

desde quando chegou a televisão.

Me perguntou: "Esta qual é?"

"Escrava Isaura, vovó".

"Estava sem saia?"

Fiz que sim.

"Não escuto quase direito, Zezinho"

Balancei a cabeça.

"Que coisa feia! Onde já se viu?"

Eu repeti, mas ela nem ouviu.


E  quando o Arziro,

do caminhão de frutas e legumes,

lhe apresentou a beringela roxa:

"O quê, Arziro? Brejeira da roça?"

"É, dona Martinha. Pode ser".

Eu ria sozinho,

mas sem dar a perceber.

Me recordava do Estevo Surdo,

do morro da Caçandoca,

quando a filha Rosa virou roda,

e, o pedido da Rosa em casamento,

foi acolhido como roda de viamento.


O velho homem deu graças à farinhada

que na semana foi de empreitada.

Roda, viamento, Rosa, casamento...

"Viva o momento!"

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