domingo, 14 de fevereiro de 2021

QUEM IMAGINAVA UMA ESTRADA?

 

Rodovia no Morro do Pinhão, no município de Ubatuba (Arquivo JRS)

     Ao viajarmos pela rodovia, entre Ubatuba e Caraguatatuba, apreciando as praias e morros verdejantes, passando rios tranquilos, não conseguimos imaginar o tempo e o trabalho que foi a abertura de uma via assim. Hoje, nas palavras de Justo Arouca, um operário da época, natural de Caraguatatuba, apresento a você o nascimento da estrada:

    Era o começo de 1948. A  casa do seu Chico Graça ficava nos limites da área urbana da cidade, indo para Ubatuba. Uns seiscentos metros do centro. Ganhava a sombra de dois frondosos pés de cambucás e um outro de jambo. Coisa linda!

   No dia seguinte, segunda-feira, nada aconteceu. Nem na terça. Nem no mês seguinte! Quem dera naquele vilarejo tão distante do mundo houvesse um acontecimento tamanho! Uma estrada, para aquelas bandas, livraria os caiçaras de caminhar horas a fio pelas encostas à beira mar, equilibrando-se nas costeiras ou em canoas para chegar à Vila.

   Que bom haveria de ser uma estrada!

   Naquele nosso pequeno mundo sem horizontes ou sonhos a serem construídos, o cotidiano vagava pelas praças empoeiradas, ora ouvindo a estridente gritaria da garotada do grupo escolar, ora o troar de tambores da congada famosa em dia de festa.

   Mas numa dessas manhãs iluminadas da história, uma movimentação incomum na rua Dr. Altino Arantes, porta de entrada da cidade. Um aluno chamou à atenção, em voz alta:

   - Olha que montoeira de carros, exclamou ao colega do grupo escolar vendo passar quatro automóveis, um atrás do outro.

   Os carros, apressados, seguiram até onde era possível chegar, no final dessa mesma rua, bem perto da chácara do seu Chico Graça.

   Terminadas as aulas, fomos ao corriqueiro caminhar nos terrenos baldios em busca de algum divertimento, quando ao longe, avistamos um grupo de pessoas se movimentando no final da dita rua. Algumas pessoas vestidas em terno azul, gravata estirada aos ombros, davam ordens. De repente dois esteios foram fincados ao chão para sustentar uma faixa com letreiros para soletrar: Departamento das Municipalidades. Estrada para Ubatuba.

   Muitos trabalhadores, carroças puxadas a burro, plainas movimentadas por esses animais estavam um pouco adiante, esperando ordens. Logo depois o trabalho começou talvez para satisfazer as autoridades presentes. Mas começou!


Fonte: Ubatuba - onde a lua nasce mais bonita. Livro de Justo Arouca. Editora Cabral, 2012.

    

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