quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

ENCOSTE O OUVIDO QUE EU LHE CONTO

 

Coruja no toco (Arquivo JRS)

    Um cachorro corria com dinheiro na boca. Uma cabeça de garça segurava um peixe no bico. Lentamente uma camada se levantou ameaçadoramente. Era uma onça, toda branca, mas medonha. A garça sumiu entre arbustos que se formaram com o felino. Olhei de novo; passou tudo. Só um sapo admirava o ar avermelhado, quando o sol se punha no morro distante. Eu olhava ainda o sapo, mirava o quadro escurecendo quando, de repente, não sei de onde, pontinhos brancos seguiam enfileirados. Agora era de verdade! Dezenas de garças brancas seguiam voando na ordem delas. Pelo rumo deduzi que iriam para as árvores e o bambuzal, que beiram o rio do canto da praia.

   Dias desses, ao passar no dito rio quando escurecia, enxerguei a grande quantidade de aves empoleirada, cansadas, mas com força ainda de mais um mergulho na garantia do jantar. Quantas vezes me admirei dos infindáveis pontos brancos distribuídos no entorno verdejante!?

   Agora já é noite. As nuvens continuam se movimentando, se compondo em figuras diversas. Desde criança, quando posso, me entrego a distinguir imagens se formando e se desmanchando. Linda visão do céu estrelado! Vovó Eugênia dizia ter conhecido alguém que falava com as estrelas: "Encoste o ouvido que eu lhe conto, Zezinho. Foi com elas que ela aprendeu que o mar tem dois tamanhos: o da nossa imaginação e aquele que ele quer ter".

Nenhum comentário:

Postar um comentário