domingo, 7 de fevereiro de 2021

O FRUTO SAGRADO

Festa na aldeia (Arquivo JRS)


        A pesquisadora Kilza Setti, a mesma que escreveu Ubatuba nos cantos das praias, publicou um estudo a respeito do sistema musical dos índios Guarani de São Paulo. Isso foi no Diário Oficial Leitura, há trinta anos.  Vale a pena entender um pouco mais da vida dos povos indígenas, sobretudo quando se refere a valores do grupo Mbyá-guarani que tem três aldeias no município de Ubatuba.

      As formas mais expressivas do repertório musical guarani estão presentes às celebrações religiosas (porãhei ou porã'i), orações e cantos sagrados que se realizam todas as noites em algumas aldeias, e com muita frequência noutras, além da cerimônia de batismo uma vez ao ano, à qual chamam nhemongara'i. [...] É preciso dizer que tanto as situações de reza cotidiana como as anuais do grande batizado propiciam com muita probabilidade as ocasiões musicais.

    Além das celebrações acima referidas, há outro fato que estimula a prática musical coletiva. Trata-se do xondaro, espécie de dança/luta que procede, nos finais de tarde, as cerimônias sagradas. Na bibliografia brasileira consultada não encontramos, até o momento, referências ao que os guarani de São Paulo chamam de xondaro, e que remete a um sentimento de defesa conforme os próprios informantes das aldeias paulistas na época (Boa Vista, Silveiras, Morro da Saudade e Jaraguá). Antes da cerimônia de nhemongara'í, homens e jovens, simulando movimentos coreográficos de defesa, volteiam algumas vezes em sentido anti-horário, no que são acompanhados em duo de violão e rebeca.

   Irma Ruiz descreve o mesmo movimento que precede a cerimônia do batismo, assinalando ser a palavra xondaro corruptela de soldado. Refere-se a "Tupã sondaro" (soldado de Tupã) como guardião do fruto sagrado gwenbé oferecido cerimonialmente durante o nhemongara'í. Nas situações de celebrações aqui mencionadas está presente a prática musical. Por outro lado, certas ocasiões musicais estão desvinculadas da religião. Os guaranis reúnem-se para cantar e tocar repertórios estranhos ao seu sistema musical religioso. Algumas formas e instrumentos (incluindo a sanfona) vão sendo assimilados à sua prática musical, o que demonstra certa flexibilidade e segurança em manter simultaneamente, mas em categorias estanques, diferentes repertórios, com a consciência das particularidades que os distinguem.


Em tempo:  informação importante do fruto do guaimbé, a mãe do imbé, que eu encontrei em http://overdegratuito.blogspot.com:

Frutifica nos meses de dezembro a fevereiro. Os frutos são comestíveis mais devem ser consumidos apenas chupando a polpa, pois se morder, as sementes contem oxalato de cálcio (cristais ou agulhas em miniatura) que faz com que a língua, boca e garganta fiquem picando. Não há toxinas no fruto, mas apenas esse inconveniente causado pelo formato do mineral. É por isso que os indígenas tomavam apenas o suco ou liquido do fruto espremido, sendo essa a origem do nome. A planta é muito cultivada como ornamental ou em vasos dentro de casa. Essa espécie também deve ser utilizada em reflorestamentos pois seus frutos são muito apreciados por diversos animais silvestres como gralhas, sabiás, gambás, guaiticas e macacos.

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