quarta-feira, 13 de maio de 2020

SOMOS FILHOS DA TERRA

Casarão em Bananal (Arquivo JRS)


Adoro viajar, ver as belezas naturais e culturais, sobretudo nos riquíssimos recantos do nosso país! Viajar, fazer amizades, conhecer outras comunidades, apreciar as artes etc. Tudo é muito bom! Por isso, em tempo de distanciamento por uma causa assustadora, onde tanta gente já morreu, revejo umas fotografias para relembrar outros momentos da vida, das nossas vidas.

                Eu presto muita atenção em detalhes simples nessas minhas andanças. As edificações de outros tempos me atraem demais! Ao olhar, por exemplo, um casarão do tempo onde o Brasil era colônia de Portugal, consigo enxergar  a movimentação daquele tempo, inclusive as condições dos escravos. Imagino as pedras e as madeiras – enormes! – transportadas sob açoites.  “Os dados mostram que as mortes dos negros (pretos + pardos) por covid-19 já superam as dos brancos”.  Admiro o mestre de obra que realizou um projeto, com tamanha harmonia que continua cativando olhares, causando admiração. “Será que tinha uma casa decente?".  Ou, de acordo com uma música: "Tá vendo aquele edifício, moço? Eu também trabalhei lá!". Mas se parar para admirar a casa depois de pronta, pode até se tornar um suspeito de querer roubar. 
       
            Eu viajo no tempo, quando os indígenas, por se oporem à tomada de seus territórios, foram perseguidos. Tantos povos acabaram sendo dizimados! “E hoje, você sabe em que pé estão as organizações indígenas? Ou você sente repugnância ao vê-los pela cidade?”. A ganância resultou em enormes propriedades, em casarões que atestam a riqueza acumulada de seus donos. “Tanta terra nas mãos de tão pouca gente e tanta gente sem nenhuma terra para morar”. E de onde veio a riqueza? Do trabalho de alguém, do trabalho de muitos que, usando a força e a ideologia em suas diversas nuances, foram mascarando os sofrimentos e destruindo identidades. Pior: despertaram a ganância enquanto matavam os valores comunitários. 

     E assim trilhamos por um caminho alimentados pelas desigualdades e pelo egoísmo. "Bobo é quem não pensa assim!". Agora, com nova identidade, tantos são capazes de escolher líderes que vão de encontro a esse novo rumo de raiva, de perseguição às minorias, de justificação à morte de tantos enfraquecidos, vítimas deste sistema excludente, privatizante. “Quem não pode pagar que se dane!”.... “Para que índio precisa de terra?”... “A Amazônia tem de ser lucrativa a qualquer custo”... “Morreu toda essa gente: e daí?”... etc.

                Não! O patrimônio de um país pertence ao seu povo! “Estão vendo todas essas belezas, meus filhos? Elas resultam  da vida de muitos, de talentos diversos! Vamos respirar a presença de todos os atores que resultaram nesses lugares, nessas maravilhas! Vamos receber as energias, mas somente as positivas, capazes de nos manter fiéis aos nossos princípios, às nossas origens!”. Enfim, convém lembrar sempre da frase do velho cacique: “Tudo o que acontecer à Terra, acontecerá aos filhos da Terra”.

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