sexta-feira, 22 de maio de 2020

CAMINHO DE VAGA-LUMES

Caçuroba na barra (Arquivo JRS)



                Eu costumo dizer sempre que os mais novos têm o dever de serem melhores do que eu. Faz parte da evolução a geração seguinte avançar mais do que a geração anterior. Nesta lógica surgiram técnicas, remédios, posturas etc. “Não tem sentido eu pegar a bola e chutar para trás, querendo fazer gol no goleiro do meu time”, escutei numa tarde do Seo Carlos, ao substituir o Nelson Graça numa partida contra os adversários do Saco da Ribeira, o time do Recurso Futebol Clube que estava na disputa com o Esporte Clube Anchieta, do Perequê-mirim. Há muito tempo estes dois times desapareceram. Poderiam ter evoluído? Poderiam! O que aconteceu? Caíram num buraco evolutivo!

                Cair num buraco evolutivo é regredir, deixar de chutar a bola para frente. No caso do Brasil, nos últimos anos, desde 2013 aproximadamente, a pauta evolutiva está travada por uma elite que, ameaçada em seus privilégios (pela implantação de modestas medidas na busca de melhor distribuição de renda e de avanços sociais aos trabalhadores), se abraçou aos aliados externos (que sempre sugaram as riquezas do país) e deu um golpe político. Agora, os absurdos passam por normalidades, a Constituição é desrespeitada e as injustiças se tornam legais. Quem mais sofre? O povo pobre é a principal vítima porque está perdendo direitos que mal tinham sido implantados.

                Perde a agricultura familiar,  os pequenos produtores, porque os latifundiários e grileiros se acomodam em suas posições expropriatórias. Perde grupos indígenas para que grandes empresas, muitas delas estrangeiras, explorem seus territórios e destruam a natureza preservada pelos milênios por esses grupos. Perde outras tantas minorias porque a legislação sofre retrocesso e as forças policiais são defensoras do poder econômico, reforçando ideais fascistas. Perde a juventude porque seus sonhos não vislumbram caminhos iluminados. Isto é o pior! Certa vez me explicou um professor de Antropologia: “Várias  etnias indígenas deixaram de procriar porque só enxergam coisas ruins para o futuro e não desejam sofrimento aos possíveis descendentes. Se negam a deixarem um mundo assim, de perspectivas tão sombrias, aos filhos. E assim vão desaparecendo, tal como uma vela que se apaga”. Grande Porphírio Figueira!

                Eu cresci num buraco evolutivo, quando militares, a pedido dos Estados Unidos, aplicaram o famoso Golpe Militar. Na época, uma importante aliada da classe golpista foi uma parte da religião católica. Muitos, por não terem autonomia de pensamento, caíram feitos patinhos. Eu vivi o retrocesso na educação pública, entre outros. Hoje, novamente, aí estão os milicos associados a um ser no  (des) governo que foi banido de suas alas por desvio moral, por desequilíbrio psicológico. Agora em pijamas, protagonistas da segunda divisão anterior, novamente assumindo o chute para trás. Mas devem estar cientes que continuam na segunda divisão! Na primeira mesmo, somente os grandes capitalistas! E agora, além das linhas conservadoras do catolicismo, ainda tem os neo pentecostais, do grupo dos chamados de evangélicos, fazendo a cabeça do rebanho. “É Deus quem ilumina nosso presidente. Por isso damos todo o nosso apoio a ele!”, se justificou o Pastor João, tal como Totonho do Rio Abaixo e tantos outros que vivem da boa fé do povão.

               Ainda não vemos o fundo deste buraco evolutivo. Mas... dá um tempo aí! Algumas resistências aparecem como vaga-lumes! Dias  desses escutei o economista Eduardo Moreira falando de uma iniciativa para apoiar financeiramente as instituições populares em seus empreendimentos sem passar pelos bancos exploradores que aí estão. “Você sabe o que os bancos fazem com o seu dinheiro depositado? Podem estar até mesmo financiando fake news contra a sua classe, desmatamentos etc. Podem estar ajudando na compra de armas para dizimar minorias, reforçando as milícias etc”. Vale a pena escutar esse homem valoroso! Me aparece como um degrau para superar o buraco evolutivo que nos engole. Outros estão por aí. A nossa cultura caiçara também tem focos de luz para contribuir para importantes  passos evolutivos! Faz lembrar uma travessia da Caçandoca para o Saco das Bananas, numa noite inesquecível: “Só atravessei a mata virgem, depois do Caetano, na Ponta Lisa, porque se enxergava o caminho de tanto vaga-lume que havia!”. A nossa cultura é um desses pontos de luz.

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