domingo, 24 de fevereiro de 2013

POR ONDE ANDARÁ?



Olá,  querida Mônica! Olá, Ateliê Manacá! Bem-vindos ao blog!

Continuando o assunto, a respeito dos Marques do Valle, não posso deixar de contar um fato que vivenciei junto com o Alexandre “Gugu”, neto do Antônio Marques do Valle, o português, grande carpinteiro da Igreja Matriz de Ubatuba, aquele  que é nome de rua no Jardim Silop.
Gugu, filho da dona Ruth e Alexandre Marques, um dos músicos principais da “Banda do Coreto”, conforme aprendi a chamá-la, num belo dia recebeu a seguinte incumbência de sua mãe:
- Você, Gugu, ajuda o Zé a fazer o muro rente ao córrego. Eu tenho que sair, mas já tem uma comida preparada. Se quiserem outra coisa diferente é só fazer.
A dona Ruth se referia ao regato da parte dos fundos do terreno, na avenida originariamente denominada Petrópolis (hoje tem, merecidamente, o seu nome). Do outro lado ficava a A.S.E.L, do frei Pio, onde começava a funcionar a Creche Francisquinho. Era um muro simples. A água ainda era limpa, piscosa. Vários meninos sempre pescavam bagres na ponte que era ao lado da moradia do Brulher. Havia também as garças que se empanturravam por ali. Logo lá estávamos nós (eu e Gugu) munidos de ferramentas e com muita disposição de terminar tudo naquele mesmo dia. Era pouco serviço.
Ao sentir cheiro de comida na vizinhança, o meu amigo já começou a se motivar para o almoço. Tinha fome o rapaz!  Avaliando que a mãe não tinha preparado o tanto para a sua gulodice, resolveu preparar uma canjica. Só que tinha um detalhe: era para depois do almoço; um reforço enquanto não saía o café da tarde. Gente nova é assim mesmo, diz todo mundo. “Come que é uma beleza!”.
Percebendo o receio do amigo, resolvi almoçar na minha casa. Aproveitar da “comida insossinha" da mamãe. Só que, pensando na canjica do Gugu, tive o cuidado de não comer demais. Quem resiste a uma deliciosa iguaria em forma de canjica com leite em pó, canela, cravo etc.?
Muito bem! Ao retornar depois de uma cochilada, já encontrei uma caneca transbordando de tão cremosa. “É para você, Zé!”. Que delícia! Cremosa, cheirosa, impossível de resistir. Repeti duas vezes. De repente escutei a concha já raspando o fundo. "Impossível de ter acabado", pensei. Mas era isso mesmo! Acabou?
- Não tem mais, Zé. Sabe o que aconteceu com quase toda a canjica que eu preparei? Passou por aqui um andante pedindo comida. Eu dei o que tinha, mas o coitado continuava com aquela cara de fome. Então fui dando canjica. O homem comeu, comeu, comeu... Depois agradeceu muito, colocou o saco nas costas e seguiu o caminho. Foi quando eu notei o quanto estava esfomeado o andante. Deixou menos da metade da nossa canjica.
Fiquei contente pelo ato nobre. Fui imaginando um magrelo barrigudinho, muito barbudo e sujo seguindo pela beira do asfalto. Talvez tivesse “dado uma fraqueza" pela empanturração e se “apinchado" num capinzal para dormir satisfeito. Certamente que pessoas assim não podem perder as raras ocasiões de se fartar. Afinal, elas não sabem quando vai aparecer uma alma tão desapegada como o Gugu. A propósito, por onde andará o meu amigo?

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