quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

POETA DA PEDRA BRANCA



É concha de preguai onde começa o jundu.

                Eu conheci o velho Antunes fazendo companhia ao seu parceiro Amaral, no Bar dos Inocentes, perto da Pedra Branca da Enseada. Era um dos pontos onde o vovô Armiro entregava a nossa farinha de mandioca quinzenalmente. Depois, através dos escritos de seu filho João Batista, o JOBÀN, aprendi a olhar nas entrelinhas da poesia a angústia humana diante das transformações do mundo. Se pensarmos que esse tempo foi na segunda metade da década de 1970, então podemos dizer que não faz tanto tempo assim. Hoje, relendo uma coletânea do caiçara da Praia da Enseada, escolhi a poesia...

                DIVAGANDO

                A cada corpo que morre
                nasce uma estrela no céu
                Os homens como crianças
                querem estrelas nos dedos
                O chão armou-se de flores
                pra combater o cimento
                Quem quer estrelas nos dedos
                também quer brincar no vento
                No ventre da Terra-mãe
                gerou-se o filho do tempo
                Cansei de contar estrelas
                dormindo sob o sereno
                Deitado sobre o cimento
                dormi o sono do medo
                Sereno da madrugada
                aninhou-se em meu cabelo
                O sol menino indiscreto
                tirou-me do devaneio
                Lavei o rosto na poça
                represada no passeio
                Desta rua escondida
                no meio dos meus anseios...
                ...e um poeta sofrido
                nasceu-me dentro do peito...

                Por onde andará o poeta nascido entre sapinhauás, bem no lagamar?

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