| É concha de preguai onde começa o jundu. | 
                Eu
conheci o velho Antunes fazendo companhia ao seu parceiro Amaral, no Bar dos
Inocentes, perto da Pedra Branca da Enseada. Era um dos pontos onde o vovô Armiro entregava a nossa farinha de mandioca quinzenalmente. Depois, através dos escritos de
seu filho João Batista, o JOBÀN, aprendi a olhar nas entrelinhas da
poesia a angústia humana diante das transformações do mundo. Se pensarmos que
esse tempo foi na segunda metade da década de 1970, então podemos dizer que não
faz tanto tempo assim. Hoje, relendo uma coletânea do caiçara da Praia da
Enseada, escolhi a poesia...
                DIVAGANDO
                A cada corpo que morre
                nasce
uma estrela no céu
                Os
homens como crianças
                querem
estrelas nos dedos
                O
chão armou-se de flores
                pra
combater o cimento
                Quem
quer estrelas nos dedos
                também
quer brincar no vento
                No
ventre da Terra-mãe
                gerou-se
o filho do tempo
                Cansei
de contar estrelas
                dormindo
sob o sereno
                Deitado
sobre o cimento
                dormi
o sono do medo
                Sereno
da madrugada
                aninhou-se
em meu cabelo
                O
sol menino indiscreto
                tirou-me
do devaneio
                Lavei
o rosto na poça
                represada
no passeio
                Desta
rua escondida
                no
meio dos meus anseios...
                ...e
um poeta sofrido
                nasceu-me
dentro do peito...
                Por onde andará o poeta nascido
entre sapinhauás, bem no lagamar?
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