| Fernanda e Lemar. | 
                Há
pouco tempo a Fernanda Liberal nos deixou, vitimada por uma “doença feia”. Para
quem não a conheceu, eis uma oportunidade de se contactar com um espírito muito
sensível, sempre atenta, que escolheu morar bem perto do mar, em Ubatuba.   Talvez  sob a inspiração de seu companheiro Lemar, buscou, entre tantas coisas, ler o mar. Trata-se
de um de seus fragmentos; faz parte de seu livro Mulheres Oceânicas. 
                “É uma mulher que olha para o mar”.
                A mão que trabalha
agora sobre o papel espera os ventos do amor. E do conhecimento. A história de
todos os inícios. De reter em si o tempo que passa. Há um palco. O cotidiano e
a representação. Uma necessidade de vida. Urgente. O diálogo: a revelação do
outro. Nos labirintos, os espelhos, os nós e os laços. Da paixão. Da loucura.
Do prazer. Em que consiste a vida?
                Parar e pensar
excessivo, e sentir. Esta é a chave: sentir.
                “É uma mulher que
olha para o mar”.
                Assim pode
inventar e desinventar a si própria. É a sua condição. Uma mulher sozinha num
palco. Não há respostas corretas, só a que seu eu expressa. Pensa que sente em vez
de sentir mesmo. Ver é permitir. Vai tentar. A história de todos os inícios.
                Tenta desligar-se.
Das vozes internas que analisam, racionalizam, justificam, castigam.
                “É uma mulher que
olha para o mar”.
                O dentro-mar. Seu
quebra-mar. Ressacas. Marés baixas. Vazantes. E o autoconhecimento a inspirar.
O corpo sendo: o andar, o respirar, o tocar. Ser aberta. Ser macia. Ondulante:
onda do mar. 
                Em
tempo: agora, o Lemar, seu eterno parceiro, se refaz da dor da
perda. A ele a minha solidariedade e que continue produzindo poesias para o
nosso deleite.
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