terça-feira, 14 de agosto de 2012

MUITA COISA É DE ASSOMBRAR


Quase sempre os pescadores caiçaras pescam em duplas
                Há anos eu tenho coletado uma série de histórias que aconteceram com caiçaras. Pode ser que muitas delas sejam somente frutos da imaginação, mas também tem as intrigantes.  Elas eram contadas em rodas de causos, num tempo onde as pessoas não se importavam muito com televisão e prezavam uma boa prosa como arremate de cada dia. Os nossos olhos brilhavam; todos escutavam com muita atenção. Era possível se arrepiar e até enxugar, vez por outra, as lágrimas de emoção ou medo.

                Hoje eu relembro o que viveram o Dário Barreto e o Oscar Coelho. O primeiro, filho da tia Albertina  e do tio Custódio da Fortaleza, era um bom contador de causos. De ambos nós só temos a viva lembrança.

                Numa ocasião os dois queriam pescar na Ilha Anchieta. Só que o Oscar não estava com muita animação porque era Semana Santa, "tempo de preceito", de se guardar, de deixar de fazer muitas coisas do cotidiano (caçar, pescar, bailar etc.). Mas mesmo assim eles decidiram ir: saíram na sexta-feira com a intenção de voltar no domingo.

                Estando na ilha, no sábado, já de tardezinha, eles embarcaram na praia da ilha e foram para o outro lado pescar peixe espada. No fim da pescaria, com muitos peixes no balaio, uma coisa preta cobre toda a canoa, não se vê nada por um bom tempo. Dário assustado grita o nome do Oscar. Este não responde nada. (Depois disse que não escutou). Quando a escuridão passou, os dois remaram até a costeira, romperam o serão rezando. Passaram a noite lá, sem coragem de voltar para a praia, onde ficava o rancho dos pescadores.

                No dia seguinte  acordaram pensando que fosse um sonho o que viveram. E aí, cadê a canoa? Ela sumiu porque eles deixaram de amarrá-la. Resultado: tiveram de andar pelas pedras e nadar de volta até o local do rancho, na praia. A surpresa: lá estava a canoa, devidamente encalhada na areia, com os peixes e remos dentro, sem perder nada. Na mesma hora eles saíram rapidinho daquele lugar. Depois disso nunca mais voltaram a pescar em ocasião assim (de Semana Santa).
                 A cada vez que contavam um ocorrido semelhante a esse, era costume de ter sempre alguém a exclamar:
                "É! Muita coisa é de assombrar!".

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