quinta-feira, 23 de agosto de 2012

MORADIA DO TEMPO


Tio Marcelino (1974)
As priminhas santistas
Vovó Eugênia (1982)
                Quando perguntei a opinião da mana Ana a respeito das últimas poesias do Mingo, ela disse isto:

                “Eu gostei, mas é porque elas falam sobre os lugares e as pessoas que nós conhecemos”.

                O que ela quis dizer é que, o nosso irmão, que vivia quietinho, mais lendo do que falando, estava captando as coisas, as pessoas e os acontecimentos de uma outra forma. Então, ao ler os poemas hoje, nós (os irmãos) revivemos tudo aquilo como se fosse a participação direta do Mingo naquele tempo. Não é interessante essa expressão tardia de um universo bem nosso?

                As pessoas, sobretudo elas, são as principais responsáveis pelas nossas saudades. Não precisa olhar a imagem da  Vó Eugênia,  boa contadora de causos, de ótimas histórias, para sentir saudade dos momentos agradáveis que vivemos em sua companhia. Agora estou pensando no tio Marcelino que, bem moço foi tentar a vida na Baixada Santista, onde serviu ao Exército e depois seguiu a carreira de metalúrgico na Cosipa, longe de todos nós. Porém, aguardávamos a cada ano o seu período de férias, pois ele nos trazia "coisas encantadoras da cidade grande”. Também para ele era importante rever o lugar e as pessoas, puxar rede na praia, namorar as deslumbradas (pelo “filho do Zé Armiro que veio de Santos”). O marcante do tio Marcelino era a sua visão mais ampla de tudo e a sua irreverência, juntamente com uma câmara fotográfica para registrar muitas coisas. Tudo era em preto e branco. Demorou um pouco para eu poder comprar a minha Kodak  Ektra 10 e fazer os meus registros. Ainda bem que todo este pessoal (Ana, Mingo, tio Marcelino, Vó Eugênia, Júlio, Belinho, Élcio, João de Souza, João Barreto etc.) deram e continuam dando suas contribuições à grande memória do nosso espaço caiçara! Tudo vai saindo das nossas memórias e das nossas saudades! A poesia do mano diz mais.

               

                Moradia do tempo

                Qualquer golpe de vento,

                qualquer toque de anjo,

                qualquer canto de pássaro,

                qualquer raio de sol,

                qualquer gota de chuva,

                qualquer nota de viola

                abre a taramela

                e escancara a janela

                do quarto onde mora

                minha memória

                e minha saudade.

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