sexta-feira, 3 de outubro de 2025

DIA DE PRAIA

 

Cedinho - Arquivo Clóvis 

   Um conhecido, depois de passar o dia com a família numa praia, veio comentar comigo: "O dia estava lindo, o mar bem calmo, mas muita gente sem educação nenhuma acabou com a nossa alegria". Daí, enumerou um monte de absurdos que a gente já sabe. Creio que foi numa situação semelhante, depois de viver um dia de praia e mar, que levou o escritor Rubem Alves a produzir o seguinte texto:

    O que vi me despertou horror. Não, não amam o mar [...] Como nas privadas onde as pessoas escrevem obscenidades, sem dar conta de que ali mesmo, na parede pornográfica, está uma revelação de sua alma.

   As pessoas não vão para ouvir. Trazem consigo os demônios da agitação. Os rádios urram, cada qual a seu modo, sem que ninguém os ouça, sem que ninguém se importe. Porque não é música que se está buscando: é barulho que silencia o silêncio. Para que as vozes que moram nele não se façam ouvir. E a areia, pele branca e lisa do mar, se cobre de lixo: latas vazias, garrafas eternas de plástico, vidros quebrados, fraldas descartáveis, cascas de fruta, sobras de comida. E ninguém percebia que a areia sentia, que o mar sofria. Espaço invadido por demônios incontroláveis, os mansos perdendo sempre: chegam os rádios, vai-se o silêncio, a correria põe um fim à contemplação, o lixo se espalha sobre o branco. Ao fim do dia, a praia é um campo de batalha, coberto de destroços.

   Tristeza: ali estava a revelação de uma alma, pesadelo... 

   No quadro caótico de final de tarde em quase todas as praias, muito conhecido dos caiçaras, capaz de causa indignação em muita gente, está a alma destruidora da natureza e da paz que ela pode nos proporcionar para enfrentarmos o cotidiano de semana após semana. Ubatuba não pode seguir nesse rumo de destruição. Ousemos no exercício da cidadania!


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