quarta-feira, 8 de outubro de 2025

OS OLHOS

  

Margaridas - Arquivo JRS 

    "O belo é o terrível que contemplamos, sem que ele nos destrua" (Rilke)


    Já era metade da tarde, com um sol cheio de vontade, quando eu e minha esposa, nos deparando com uma frondosa árvore, resolvemos descansar num banco da beirada do rio. A mata ciliar - bem pouca! - se resumia em uma fina borda com variadas espécies de árvores. Uns ipês sustentavam suas últimas flores. De repente eu escutei um barulho, como se alguém andasse levemente sobre as folhas secas. Me virei devagar, avistei um lagarto  -dos grandes! 

    O lagarto seguia calmamente porque não pressentia perigo algum. Eu e minha companheira fomos acompanhando o seu deslizar entre o mato baixo e as pedras pequenas da ribanceira. Nisso chegou um carro, marca Fiat Uno, com dois homens jovens e uma criança que beirava os cinco anos. Deduzi que um deles era o pai da pequena. Subitamente o mais jovem percebeu o lagarto por ali, chamou a atenção para os demais enxergarem o bicho. Viram e se admiraram. Logo um dos parceiros, parecendo ser o pai da menina, pegou uma pedra grande para atirar no lagarto. O que fez a criança? Repetiu o mesmo gesto: se agachou e também pegou uma pedra. Na hora eu e a minha companheira repudiamos aquilo de querer assustar ou matar um ser que vive na beirada do rio, está sempre tranquilo por ali. Como pode uma coisa dessa? Além do adulto fazer uma coisa errada, ainda ensinou a criança a ir pelo mesmo caminho. 


   "Temos dois olhos. Com um contemplamos as coisas do tempo, efêmeras, que desaparecem. Com o outro contemplamos as coisas da alma, eternas, que permanecem" (Angelus Silesius)


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