sábado, 27 de setembro de 2025

SABERES ARTESANAIS, HERANÇA CULTURAL

 

Caiçarada 2025 - Arquivo JRS 


   Ao escutar a palavra herança eu deduzo que alguém deixou algo para outro alguém. É como um presente recebido. Portanto, herança cultural é tudo aquilo que marca uma cultura, que já veio de outras gerações e dará continuidade à atual e futuras. (Assim espero!). Desde quando nascemos (no seio de uma família e de uma comunidade), nós passamos a receber esses traços que marcam a cultura na qual nascemos. No caso da cultura caiçara, alguns exemplos de traços culturais: artesanato, canoagem, pescaria, culinária, religiosidade, causos, etnoconhecimento no geral e no contexto do ambiente mar-terra-serra. Ou seja, a cultura caiçara é a marca dessa minha gente que precisou sobreviver entre a serra e o mar. 

   Serra e mar são a caiçara (cercado, em tupi-guarani) natural de uma determinada faixa do litoral brasileiro, sendo o município de Ubatuba parte integrante. Herança cultural é aprendizagem, tem de ser ensinada! Por isso eu valorizo mestres e mestras desse universo caiçara! Viva toda essa gente que segue reproduzindo nossa cultura! 

   Vovó Martinha buscava junco na lagoa, escolhia depois de murchado, ensinava a fazer tranças e confeccionar chapéu. Vovô Armiro buscava taquara longe para, no terreiro, aprontar os balaios diversos. Meu pai fazia canoa, construía casas de pau a pique, entalhava etc. Minha mãe fazia o pirão mais apreciado por nós. Pedro Brandão corria folia e ensinava as cantorias. Dito Fernandes e Mocinha não deixaram morrer a congada. Tia Nair era craque em fazer e remendar redes de pesca. Neco é craque nos remos, cestaria e tantas coisas mais. João de Souza se destacou como contador de causos. Tia Maria Mesquita dominava a arte da taboa. Antônio Neves, até antes de se encantar pela caiçara de Sete Fontes, era o maior craque no bate-pé. João Zacarias, tio Chico, Pedro Cabral e muitos outros dominavam a arte da pesca. Doquinha, Maurício e outros eram músicos excelentes. Tio Dário muito me encantava com suas narrativas de façanhas exageradas. Vô Estevan e vó Eugênia tinham o dom de contar histórias. Laureana é a mestra do fandango. Vou parando por aqui, mas tem ainda muita gente para entrar nesta lista, sobretudo uma geração nova que muito me orgulha!

   Me inspirei a começar a escrever este quando, na praia do Cruzeiro, fiquei apreciando a corrida de canoa, no festival Caiçarada, na modalidade infantil, quando cada criança remava com um adulto, aprendia e se emocionava na proa que rompia as marolas, chegando na praia sob muitas palmas da plateia! Quer ensino-aprendizagem mais eficiente? É herança cultural se fortalecendo na diversidade cultural brasileira! É cultura resistindo à massificação cultural!

       A Mostra de Saberes Artesanais, na sua quinta edição, é uma oportunidade de apreciar traços culturais caiçaras. Local: Cadeia Velha, no centro de Ubatuba. Vai até 11 de outubro, a partir das 10 horas até a chegada do serão.  Passa lá para ver as obras!


Nenhum comentário:

Postar um comentário