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Ninho ao vento - Arquivo JRS |
As coisas próximas de nós nunca estarão totalmente numa boa. Assim também é mundo afora. Barcos navegam por mares mansos, mas também sucumbem em tormentas ou são atacados por maldade. No princípio da história humana, grupos nômades se enfrentavam na disputa de territórios de caça e coleta; mais tarde, os embates aconteciam para ter as melhores terras, se fazerem proprietários a qualquer custo. Países foram fundados, impérios vieram e se foram às custas de trabalhadores escravizados, de muita gente exterminada. Na atualidade, perseguições às minorias, invasões de terras das populações tradicionais, leis elaboradas para beneficiar a ganância daqueles (que se compõem num número muito restrito de pessoas) seguem a mesma lógica (de exploração em nossa terra e em outras mais distantes). Ser criminoso parece estar sendo legalizado, pode tornar-se moralmente aceitável. Uma lei terrível ronda o nosso Brasil, onde o texto tem a seguinte ousadia: bandidos só serão julgados se seus pares permitirem. Algo mais terrível? Penso no genocídio contra os palestinos praticado pelo Estado de Israel. Tudo começou quando, há cerca de setenta anos, os países ricos, depois de saquearem a Palestina, decidiram criar naquele território outro país. De lá pra cá toda aquela área se tornou um eterno conflito. Imagine você ser tocado da sua casa, ter de ocupar um espaço restrito no seu quintal e terminar sendo perseguido até a morte, chegando assim à solução "abençoada por Yahweh". É esta a vontade de um ser divino? Pode sim se for um deus da guerra!
Rubem Alves contou, certa vez, a história de um judeu, teólogo amigo dele, que dizia:
"Depois do Holocausto é preciso dizer que Deus morreu...". E concluiu dizendo que ele não falava assim por impiedade, mas porque amava Deus. Como se dissesse: "Se Deus estivesse vivo, isso não teria acontecido".
Fico imaginando qual teor teria esse diálogo na atualidade, como seria a elaboração de uma justificativa teológica para esse outro Holocausto praticado nos territórios palestinos, nas áreas restritas de uma antiga Pátria-Mãe, sobretudo na Faixa de Gaza que, na concepção sionista, precisa ser varrida para sempre. Tenho a consciência de que muitos judeus não aprovam desmesurada maldade, do mesmo nível ou pior daquela impingida ao povo judeu à época da Segunda Guerra Mundial. Um holocausto tem muitas nuances, pode acontecer bem perto. Fico imaginando quantas famílias da minha cultura foram forçadas a se retirarem da beira do mar porque os ideais capitalistas se sobrepuseram aos princípios comunitários. As leis - poucas e baseadas em árduas lutas! - favoráveis aos que resistem à exploração nunca serão aceitas por quem deseja viver às custas dos outros. Sabe a razão? Porque, sempre escutei da caiçarada antiga, "o Coisa Ruim é uma legião".
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