terça-feira, 23 de setembro de 2025

ACENTO NÃO É ASSENTO

 

Florada - Arquivo JRS 

         Chegou a primavera. De novo? Parece que foi ontem a florada intensa das nossas orquídeas!

      Pois é, tudo tá muito rápido! Entre os dedos das mãos, tal como água que a gente bebia nas bicas de antigamente, a vida vai passando. Faz-me recorrer aos versos da Cecília Meireles:


Fico tão longe como a estrela.

Pergunto se este mundo existe,

e se, depois que se navega,

a algum lugar, enfim se chega...

O que será, talvez, até mais triste.

Nem barca, nem gaivota:

Somente sobre-humanas companhias.

Em suas mãos me entrego,

invisíveis e sem resposta.

Calada vigiarei meus dias.

Quanto mais vigiados, mais curtos!

Com a mágoa que o horizonte avisto...

Aproximando e sem recurso.

Que pena a vida ser só isso!


     São as humanas companhias que preparam cada manhã, cada dia de vida no qual esperamos simplesmente colher frutos. Não é assim? Humanas companhias que começam a se fazer nos embates da vida... Humanas companhias que nos deixaram na saudade... Humanas memórias que resistem!

    Uma das muitas memórias no horizonte são as curiosidades das palavras, dos lugares. Na minha infância, na praia do Perequê-mirim, em Ubatuba, existia a Pedra do Cágado, bem perto da casa do estimado casal Cunha/Vitalina, na beira do rio. Tinha essa denominação porque sempre alguém encontrava por ali algum cágado, espécie de quelônio raro no litoral. Eu mesmo cheguei a levar para casa um deles que por lá encontrei. Também ali por perto, na costeira da Bela Vista, depois da praia da Santa Rita, existia a Pedra do Cagado. Era assim chamada porque, diziam, naquele lugar, num dia de pescaria, o Mário do Xarazinho teve uma desinteria medonha, sendo preciso ser carregado para  não morrer ao avesso. Percebe que trata-se apenas de uma acento ortográfico fazendo toda a diferença? Quando, numa ocasião, eu comentava disso com o compadre Nilo Cabral, ele acrescentou: "E tem o cagadô, compadre!". É mesmo! Cagadô era o cagadouro. No tempo onde as casas caiçaras não tinham banheiro, era em algum lugar perto das moradias que as pessoas faziam suas necessidades, geralmente entre as bananeiras. (E pensar que isso tem menos de cem anos!). Com o tempo, cagadô virou sinônimo de coisa próxima, não tão longe. Assim o compadre ilustrou: "A gente era criança, saía pra pescá. Ia perto, ali no cagadô. Não demorava nada e logo a gente vortava com pampo, sargo, gudião e mais mistura para o armoço". 

     Ah! Salve essas memórias que resistem a tudo que passa tão depressa! Que pena a vida ser só isso!

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. E não é Seminino!
    Nas terras de vovô tinha um lugar que não podíamos cortar nem uma vara pra cercar a horta, ali ficava o cagadô de vovô com muitas plantas de pariparoba que era usada como papel higiênico.
    Vovô não gostava de usar o banheiro do quintal ele tinha o cagadô.
    Um dia mudou-se pra perto de casa um parente do tio Otávio de Jesus ,titio era nascido em Ubatuba lá pras bandas da praia das Toninhas e este irmão morava no Lázaro.
    Sua esposa criava uma cutia que vevia solta pelo quintal.
    Um dia bobo estava em seu cagadô predileto quando apareceu a cutia e deu-lhe uma mordida na bunda .viche nossa , só vi vovô chegando bravo em casa a procura da espingarda ,queria matar a cutia da vizinha.

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