domingo, 7 de setembro de 2025

RESISTIR É PRECISO

 

Resistência de um povo - Arquivo JRS 

        Há 31 anos se comemora, no dia 7 de setembro, por iniciativa da igreja católica do Brasil, o Grito dos Excluídos inspirado no Grito do Ipiranga.

     O Grito do Ipiranga é a denominação do momento em que o imperador Pedro I, em 1822, proclamou a independência do país em relação ao domínio de Portugal. Ele, na ocasião, se encontrava às margens do rio Ipiranga, hoje centro da cidade de São Paulo. Um artista imaginou o momento e pintou uma tela que hoje é famosa. Nós sabemos pouco, mas aprendemos na escola o quanto lucrou alguns países (Portugal, Inglaterra...) para o reconhecimento dessa independência. Melhor usar esta condição entre aspas, principalmente agora quando uma horda de gente que vive às custas de quem trabalha brada contra a nossa soberania, deseja continuar sendo quintal dos Estados Unidos da América.

    É Grito dos Excluídos porque são mais de 500 anos de injustiças, muitas delas nunca refletidas por nós no dia a dia. Os jovens querem trabalhar, mas quem oferece trabalho digno a essa juventude? Muita gente da minha geração, mesmo trabalhando sempre, mora em condições horríveis, se alimenta mal e não se diverte de verdade. Pior: não enxerga melhores dias para os seus descendentes. Na minha cidade, assim como na grande maioria das demais, os nativos devem ceder seus lugares aos que se apresentam com maior poder aquisitivo. Quem nasceu na praia não consegue arcar com os impostos que foram sendo aumentados de acordo com a especulação imobiliária e com a ganância perante as lindas paisagens do meu lugar, da terra dos meus ancestrais que me viu nascer. O que fazer? Vender e se afastar da beirada do mar, se fixar em áreas impróprias, nos mangues ou confins da serra, acabar com a mata e com os rios que descem da Serra do Mar. Precisa de um salário para viver? Vai a pé, pedala...Pega ônibus se puder pagar! Quem topa zerar imposto territorial ao nativo caiçara que persevera na cultura?

    Excluídos das condições de outrora, onde parecia haver mais dignidade, os pobres sobrevivem. Seus filhos não são obrigados a se conformarem, mas não enxergam saídas para a situação. Quem arruinou esses corpos que perambulam pelas ruas, estão dependentes de drogas, são desgraçados pelo sistema econômico que aí está? Quem terceiriza mão de obra em vez de efetivar os concursados? Quem fecha escolas de comunidades mais carentes? Quem é a favor de acabar com os direitos trabalhistas? Quem deixa de investir no transporte público? Quem deseja manter os pobres alienados promovendo shows bizarros na esteira da velhíssima máxima do pão e circo? Quem reproduz ideias arcaicas para fortalecer o poder de uma minoria? Quem acha certo o rico não pagar nada de impostos? Quem não perde a ocasião para desviar verbas públicas a fim de aumentar o seu patrimônio? Eu poderia ir muito mais que isto, mas vou parando por aqui. O resultado disso tudo é exclusão das camadas populares, do meu povo! Tempos atrás encontrei um jovem-envelhecido na praça 13 de maio, no coração da minha cidade (Ubatuba). Reconheci imediatamente e pensei: quando os pais eram vivos, moravam no beira da praia do Itaguá. Agora ele está mendigando na grama. Daqui a pouco chega a polícia e o expulsa também dali. Vai para onde? Como o poder público e privado lida com isso? De quem é a culpa maior pelo tanto de excluídos que só aumenta? Bem escreveu o meu amigo poeta Zé Vicente: "São os frutos do mal que floriu num país que jamais repartiu". A cada dia eu me pergunto: o que eu deixei de fazer para reverter esse quadro? Pior: tem até muitos caiçaras que aceitam a pecha de serem preguiçosos só porque o modo de vida dessa cultura tradicional se opõe às regras do sistema capitalista! E assim, engolindo a isca, os peixes menores de acabam entre si, não se reconhecem como excluídos. 

   Eu e possivelmente você, mesmo que em melhores condições, somos excluídos! Duvida disso? Quem vai se compadecer da sorte dos desgraçados? "Ah! É mais fácil apedrejar, tacar fogo, chutar, deixar apodrecer nas cadeias!". Ou seja: é mais comum piorar do que consertar. 

2 comentários:

  1. Quantas perguntas infelizmente sem respostas! No entanto é preciso perguntar, mostrar indignação.

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