quinta-feira, 4 de setembro de 2025

QUINTAL DOS LOPES

        

Quintal dos Lopes - Arquivo JRS 

"Aqui se encontram...". - Arquivo JRS 

     Como é bom visitar pessoas queridas e conhecer outras mais! Em mais uma oportunidade eu, Maria Eugênia e Domingos fomos visitar o Maciel no Vale do Paty. Dia bonito, sol que secava os caminhos da chuva do dia anterior, plantas das mais diversas dos dois lado, pelas grotas onde um discreto rio serpenteava. Do portão, no fim da estradinha, avistamos o nosso amigo com mais duas pessoas. Eram visitantes que passaram dois dias ali, mas já estavam de saída. Porém, ainda deu tempo de algumas prosas coalhadas de causos. Não seria desperdício descartar o título de: "Aqui se encontram caçadores, pescadores e outros mentirosos". Ou, se preferir, o dizer do finado pai do Tiagão de Itamambuca depois de um exagero no causo contado por alguém: "A providência divina é capaz de muitas coisas". (Em seguida, esse caiçara de outro tempo contava um causo mais caprichado). 

    Depois de muitas risadas acompanhado de farto café e de prazerosa prosa, vieram os preparativos para o almoço. Que fartura! Palmito dali mesmo, cortado há menos de dez metros do fogão estalando em labaredas, ervas buscadas na área da horta, farinha de mandioca feita no dia anterior, suco de caqui congelado da última safra etc. "Parece que a gente não para de comer quando vem aqui!". É assim mesmo, mano Mingo! Depois da refeição saímos pelos arredores para conhecer a vizinhança. Momento mais marcante: adentrar na propriedade, na casa dos irmãos Beto Lopes e Aparecida. Não é fácil descrever a beleza e a ordem do lugar mantida no coração do terreno, na casa impecável que um dia os avós habitaram. Nunca imaginei tantas plantas bem cuidadas, tantos arranjos de flores, tantos pés enormes de caquis, tanta água e criação na maior paz daquela irmandade. Deu vontade de não sair dali, de ficar sendo parte de tudo que se desenrola naquela área exemplar mantida pela família. É muita dedicação, minha gente!

   Há algumas décadas foi implantado no alto da serra o Núcleo Santa Virgínia visando preservar mais espaços da Mata Atlântica, mas ali, nos arredores da área do Maciel e dos irmãos Lopes, o que se verifica são os poucos espaços de mata nativa e os muitos hectares de cultivo de eucaliptos. "Quanto veneno já foi ou segue sendo usado por aqui?". Maciel diz que agora não pode dizer nada com certeza, mas no início, "milhares de litros de 'randapi' [herbicida roundup] foram aplicados no controle do mato". No final, aonde vai parar esse veneno? Me consola ver uma ou outra família resistindo em meio a tudo isso. "Mas tinha muito mais! Para você ter uma ideia, aqui havia duas escolas!". Isto eu pude constatar; as jabuticabeiras pelas matas e beiradas de estradas atestam uma ocupação razoável num passado nem tão distante, quando criação de gado sustentavam essa gente de serra acima. Foi a partir da segunda metade do século XX que teve início o êxodo das pessoas. O advento do turismo na cidade caiçara (Ubatuba) se tornou um atrativo poderoso à caipirada que tanto estimo.