quinta-feira, 29 de julho de 2021

FAZ FRIO

 

Alguém desabrigado (Arquivo JRS)

         Que alegria ter uma escola (EMEI Professora Maria Alice Leite da Silva) seguindo o blog! A minha saudosa amiga Maria Alice também iria gostar muito das nossas coisas de caiçara! Abraços ao pessoal que faz esta escola.

     "Quando eu aprendi a 'ler' barulhos?". Pois é, acordei pensando nisto. 

   Um zumbido próximo é uma mamangava. Um farfalhar discreto é vento chegando, trazendo frio. Um ronco horrendo é um sem-noção da vizinhança deixando o caminhão ligado para infernizar os arredores. Uns piados alegres são os pardais em busca de comida no terreiro. Um assobio breve repetidamente, como se balançasse, é beija-flor contente com o bebedouro abastecido quase agora pela minha filha. Pancadas ao longe é alguma reforma doméstica. Canto lindo, capaz de me tirar do texto, é sabiá cantando no pé de carambola plantado por mim há mais de duas décadas, que serve de abrigo às ninhadas ano após ano...

     O menino se apaixonou, não vê a hora de estar com sua amada. Seus desenhos são reflexivos e repletos de significados. Agora ele toca um instrumento de corda, cujos acordes me parecem melancólicos. Escuto tudo daqui, de onde escrevo.

     Ouvir o vento, saber que um frio mais intenso vai chegar depois de uma possível chuva... Ouvir os lamentos dos desabrigados, dos abrigados sob árvores e espaços acessíveis ao público, nas beiras de praias... Tomar a atitude de acudi-los porque desta vida não se leva nada. 

    É preferível acreditar ser abençoado nas lembranças do que ser amaldiçoado pelos tempos. Agora, cedo ainda, psiu, não faça barulho porque tem gente dormindo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário