quarta-feira, 28 de julho de 2021

O HOMEM DA JANELA

 

Dito Madalena, eu e a árvore do esquecimento (Arquivo JRS)

   Praia do Perequê-mirim, tempo de escola primária; se aproxima a época do exame no quarto ano. "Na próxima semana nós devemos receber a visita  do inspetor, do senhor Rafael Baldaci. Ele tem o hábito de fazer uma chamada oral para verificar como está o aprendizado de todos. Espero que cada um de vocês faça o melhor. Hoje faremos um ensaio seguindo o costume dele, na forma como ele faz". Era o professor Osmildo Meireles explicando. Hoje ele é morador no Perequê-açu. Queria que nós o orgulhássemos ainda mais.

   Dito e feito. Logo cedo, no esperado dia, levantávamos para receber o inspetor. Não fez rodeio para iniciar a tal prova. Ele e o nosso professor à mesa, diante da lousa, iam chamando um após outro. Era a famosa sabatina. Todos nós, crianças de 10 ou 11 anos, estávamos nervosos como qualquer dia de prova na escola. Próximo deles estava a janela que se abria para o terreiro onde brincávamos no recreio ou nas gincanas e jogos organizados pela escola.

    Depois da Vera Lúcia, filha do Vitorino, da Pedra Branca (Enseada), foi a minha vez. Dez perguntas seriam feitas. Eu estava muito nervoso, respondendo naquele silêncio marcante da sala inteira prestando atenção. Das nove, acertei as nove. Faltava a última. Momento de tensão maior que aquele só em dia de vacinação, quando o Juanito, funcionário da Saúde, estacionava o jipe verde com os apetrechos temidos por nós. A derradeira questão foi de Geografia: "Muito bem, menino! Para fechar com chave de ouro, me diga qual o nome do meridiano que é considerado o marco inicial para a medição das longitudes, que demarca os fusos horários; onde, teoricamente, a Terra se divide entre ocidental e oriental?" 

   Eu sabia a resposta, mas não me lembrava. Era uma palavra estrangeira, o nome de uma cidade da Inglaterra, se não me engano. Mas cadê que o bendito nome se concretizava?! De repente, um vulto aparece na janela, na direção em que eu me esforçava na concentração. Era um homem. Estava pelo lado de fora a nos espreitar. Eu, até hoje, tenho certeza de que não o conhecia, nunca tinha visto e nunca mais o vi. Só sei que ele me "soprou" a resposta apenas movimentado os lábios, sem emitir som algum: "Greenwich".  Em seguida sumiu. Então, me voltando para o inspetor, disse: "Greenwich é a resposta, seo Rafael". "Muito bem! Parabéns!". Suspirei aliviado. A sala inteira parecia bater palmas. O inspetor e o professor Osmildo tinham um sorriso que recompensava toda a aflição sentida. 

    Quem era aquele homem da janela?


(Em tempo: no ano seguinte, já estudando no "Deolindo", conheci o filho do referido inspetor, que tinha o mesmo nome do pai).

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