quarta-feira, 10 de julho de 2019

SÓ FALTA A MULHÉ


           
Artes da minha Gal (Arquivo JRS)
          Hoje amanheci pensando na amiga Fátima, a escritora caiçara, minha colega de escola no ginasial e no colegial, filha de João de Souza, o caiçara do pé rachado, o nosso saudoso contador de causos. O título deste é dela. O conto, que está no seu livro Arrelá Ubatuba, é o seguinte:

               Marina olhou para a folhinha de bloco encardida, pendurada na parede e viu que já era junho. Esperava por vários anos por um milagre que não acontecia. Já estava ficando velha e não conseguia se casar. Quantas promessas já tinha feito para Santo Antônio? Perdera a conta. E simpatias então? Fizera todas que sabia e que inventara. Desanimada apontou o seu dedo magro para o retrato do santo e sussurrou raivosa: “Este ano o senhor vai ver uma coisa. Não vou enfeitar o seu andor. Não vou fazer simpatia, nem promessa porque não adianta mesmo. O senhor não é casamenteiro coisa nenhuma. aguarde”.
               No dia da festa, pegou uma caixa, colocou um tijolo dentro, embrulhou direitinho, amarrou um enorme laço de fita vermelha para realçar mais e levou para ser leiloado. De olho nos lances, Marina viu o pacote nas mãos do leiloeiro percorrer todo o “arraiá” alcançando lances cada vez mais altos. Até que um sujeito meio esquisito, mas bem-apanhado, arrematou a tão preparada prenda. O coração de Marina foi à boca. Em meios aos gritos de abre! Abre! Marina tentou fugir do lugar para não participar da confusão que estava prestes a ocorrer. Atendendo a pedidos, o misterioso rapaz abriu o pacote, pegou o tijolo e gritou para que todos ouvissem:
               - Este tijolo será o primeiro da construção da minha casa. Agora só falta a mulhé!
               O leiloeiro indignado com a falcatrua arrastou Marina até o rapaz e esbravejou:
               - Não falta não. Tem ela aqui, ó!!!

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