quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

UBATUBANOS

         
Julio C. Mendes, o professor e folião Julinho (Imagem da internet)
     Eduardo Souza nos deixou há alguns anos, mas sempre tem alguém a nos recordar desse filho tão singular de Ubatuba, que sempre nos brindava com seus textos n’ O GUARUÇÁ. Hoje, após o texto do Penna, voltei a reler este, de 2012, que agora lhe apresento. Se ainda estivesse entre nós, nesta ocasião (Carnaval) estaria publicando um texto das peripécias do folião Julio, meu amigo desde o primeiro ano ginasial (sexto ano escolar hoje).

         Textos interessantes nos trazem o José Ronaldo [dos Santos] e o Julinho Mendes. O primeiro, sobre a preservação da cultura caiçara, o segundo, uma história do saudoso Lindolpho Alves Pereira, o “Prééééga fogo!”. O Zé Ronaldo argumenta sobre a necessidade da preservação de comunidades caiçaras. Cita a do Puruba, e nos brinda com uma foto do “Seo Antonio”, balseiro aposentado, quero crer, do rio do Puruba, consertando uns peixinhos que, pelo jeito, me parecem paratis barbudos...
         A ideia de preservação da cultura caiçara é complicada quando se tem a sedutora presença de todos esses “avanços” da modernidade, com a excelsa participação do dinheiro na vida das pessoas, com a TV despejando “informações” e modismos nos lares, com todo esse processo vertiginoso de aculturação, acho muito difícil preservar os resíduos dessa cultura. A não ser que houvesse disposição e vontade dos próprios moradores dessas comunidades. Tenho a impressão que algumas comunidades que ainda se interessam em preservar esses valores são as comunidades do Sertão da Quina e a do Itaguá. Talvez, se essa cultura fosse vista como valor econômico, como insumo para a atividade turística. Turismo cultural. Se essas comunidades pudessem ganhar dinheiro com isso, quem sabe motivar-se-iam em preservar essa nossa cultura.
          Quanto ao velho Lindolpho, tenho também uma historinha pra contar. Foi na época em que comecei, já vão lá há uns quarenta anos, a namorar com minha mulher Ângela, neta do irmão do Lindolpho, o Rodolpho. Havia ganhado um pequeno violão da Annik Toth que, na época, fora embora para a França, morar com uns parentes da mãe dela. Esse violãozinho tinha uma corda que eu não conseguia afinar de jeito nenhum. Lembrei-me, então, do Rodolpho e fui até a casa dele, ali onde hoje há uma casa de ração para animais, na antiga Rua Condessa de Vimieiro - hoje, Cel. Ernesto de Oliveira, para regozijo do Nenê Velloso. Encontrei-o na sala, cuja porta era ao rés da rua, aliás, ficava sempre aberta para a rua, estava sentado no sofá, televisão ligada, uma TV preto e branco, em que se colocara na tela um papel celofane, não me lembro se azul ou vermelho. Fui logo entrando. “Rodolpho, tenho um violão aqui que não consigo afinar. Vê se você consegue. É a primeira corda, a de E (mi)”. Ele pegou o violão de minhas mãos e começou a dedilhar. Aí, então, aparece quem?... o Lindolpho, com sua bicicletinha. Viera fazer uma visita. Conversaram um pouco. De repente, o Rodolpho levantou-se, foi num dos aposentos da velha casa e, quando voltou, tinha um outro violão que entregou ao irmão. Começaram a tocar. Rodolpho no solo e Lindolpho fazendo o baixo. Os dois velhos caiçaras ali, na minha frente, dedos grossos e calejados pela idade, tocando improvisadamente, lembrando os tempos de juventude. Rodolpho chegou até a tocar uma valsa composta pelo irmão Adolpho. Famoso compositor ubatubano - Dona Ophelia é quem melhor poderia falar sobre o Adolpho. Uma família de músicos. Aliás, um dos descendentes dessa família é músico famoso: o Renato Teixeira. Uma tarde inesquecível.
(Fonte: O GUARUÇÁ)

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