terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

NÃO É APENAS UM SOFÁ

Sofá velho na natureza (Arquivo JRS)

               Totonho do Rio Abaixo, desde que resistiu à tentação num meretrício, tem me procurado para prosear em torno do tema. Até parece que se arrependeu de se arrepender. Na semana passada, relembrando da moça que tinha uma tatuagem que tanto o marcou, ele se mostrou muito atribulado: “Sabe que agora a minha filha, nessa moda da juventude de tatuar o corpo, apareceu com uma imagem semelhante à daquela dama, de mamicas tipo farol de milha xenon, do ‘Fim da picada’ naquela fatídica noite? Só pode ser o ‘Coisa Ruim’ me tentando! E agora? O que que eu faço? Acho que vou pegar ela pelos braços e levar em algum lugar para remover aquilo. Aqui em nossa cidade tem coisa assim, alguma clínica?”. Eu lhe respondi que não sabia. Você sabe? Coitado do Totonho! Ele, evangélico tão “convicto”, precisa é se tratar dessa tara alimentada desde criança! Mas vai dizer isso a ele! Vai, se tiver coragem, vai.
               Totonho está doente mesmo! Ontem, ao clarear do dia, descendo com uma carga, no começo da estrada ele avistou um sofá velho, naquele lugar onde tem uma placa: “Proibido depositar lixo”, citando a Lei Municipal de 1996. Ali travou e de lá mesmo me telefonou: “Estou sendo mais tentado que o tal de Santo Antão, Zé. Sabe onde estou? Aqui, na rua aberta pelo Zé Debruço. Você acredita que tem um sofá velho, abandonado e atrapalhando o trânsito, que eu desconfio que seja o mesmo da casa da ‘Militona’, aquela formosura que foi a minha primeira namorada depois da besta ruana? Bati os olhos nele, já fui me recordando de tantos momentos que nós vivemos ali no escurinho do puxadinho do velho ‘Cosme’, o pai da danada. Na verdade, é como se eu tivesse me enxergando naquele traste, quase no mato, fornicando nos bons tempos, quando nem pensavam em inventar viagra, esse azulzinho milagroso. Agora tô aqui, nem consigo sair do lugar, nem as pernas se mexem. Vê se vem me ajudar, por favor”. Fui. Só teve um alternativa: internei o coitado do “trabalhador”.

               E você, que agora avança nestas palavras, pode nunca ter imaginado o que pode desencadear um velho móvel largado desse jeito na natureza, num lugar que tanta gente passa. Quero ver é quem vai pagar o tratamento do Totonho!

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