domingo, 6 de julho de 2014

COMO ERA BOM!

Mural de outros tempos   (Arquivo JRS)

       Ao escrever a respeito do coco pati, a minha prima Nádia do Prado, criada no jundu da Praia da Fortaleza, fez questão de dizer o seguinte: Amode que eu já comi muito com farinha de mandioca . E era bom heim!”.

       Pois é! Como um peixe na toca, aos poucos vão aparecendo vislumbres dos nossos hábitos caiçaras! É bom que alguns se recordem do que viveram, enquanto outros vão tomando conhecimento.

      Ao ler o escrito da Nádia, me recordei de uma tarde distante no Sapê, na casa da vovó Martinha. Estávamos só nós: eu - bem moleque ainda! -, ela e a tia-bisavó Izolina. De repente, a vovó diz: “Vamos fazer farinha de coco para o café. Zezinho, pega a roçadeira e um saco ali no canto. A gente volta logo, titia”. Quando me vi, já estávamos atravessando a vargem em direção ao Morro dos Amorim, distante quase dois quilômetros da casa. Sobre a terra preta encharcada, os paus roliços serviam de caminho entre abundantes ciosas, davam firmeza aos pés.

      No aceiro de uma roça de mandioca, lá no morro, tinha alguns coqueiros indaiás. Ela escolheu um cacho caprichado, amarrou a roçadeira numa vara de capororoca comprida e logo nós vimos ele rolando no capim-melado. Na hora eu pensei: “Meu Deus! Quem vai aguentar carregar esse cacho até a casa?”. 

      Para quem não conhece, o indaiá dá um grande cacho. Além do mais, é difícil de carregar porque tem uma ponta incomodante em cada coco. A vovó só disse: “Este tá bom”. Em seguida dobrou o saco, ajeitou sobre um ombro, lançou  aquele enorme cacho, deu a ordem para que eu levasse a roçadeira e saiu andando naquela picada precária. Eu me admirei da força da vovó, que estava nos sessenta anos.

      Aquela distância ela fez num único lance. Quer dizer: não parou para descansar nenhuma vez. Ao chegar no terreiro, jogou a carga ao lado de uma pedra usada para quebrar cocos (pindoba, indaiá, brejauba, jarobá...). Fez um descanso breve. Logo estávamos nós três a quebrar coco. Depois de uma certa porção, a titia começou a socar no pilão, acrescentando um pouco de açúcar e arrematando com a farinha de mandioca feita ali mesmo a cada quinzena. E por fim, em torno de uma chaleira de café, era só alegria com farinha de coco indaiá!


     É, com sempre repetia o vovô Estevan: “Naquele tempo o dinheiro era custoso, mas o de comê era em fartura”.

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