terça-feira, 22 de julho de 2014

FOI MESTRE MESMO!

Imagem do Google

          No último dia 19 perdemos um grande mestre: Rubem Alves.
       Rubem Alves, cujas obras eu tive contato na metade de 1980, me encantou sempre com sua linguagem despojada, seus temas incisivos e tão próximos da gente. Por isso sempre fiz questão de guardar recortes, de adquirir obras e de acompanhá-lo em suas palestras sempre que possível.
       Tenho sempre como leitura obrigatória as suas reflexões a respeito da educação. Em forma de metáforas, esse homem sempre trouxe outras luzes para entender temas importantes.
      Numa ocasião, numa discussão em torno dos vestibulares e da estrutura de ganhar dinheiro nisso, os chamados cursinhos preparatórios, o devotado professor Ênio trouxe o texto de Rubem Alves com o título de O país dos dedos gordos (5), incluído na obra Estórias de quem gosta de ensinar. Assim está escrito:
        “Enganam-se os que pensam que os cursinhos são organizações escolares dedicadas a ministrar um saber avançado. Entre as disciplinas que normalmente servem em suas dietas encontram-se sempre a ansiedade como tempero gratuito. É que ela é parte integrante das liturgias que acontecem em volta dos vestibulares. Sem a magia negra da ansiedade eles seriam eventos banais, sem maior importância. É a ansiedade que lhes dá sua dignidade específica, qualidade quase religiosa perante a qual todos se curvam, sabedores de que ali se joga com o sentido da vida. Daí o seu poder para penetrar no corpo; aquele frio na barriga, os pulos sobressaltados no meio do sono, os olhos abertos que se recusam a dormir, as diarreias, a agressividade que gostaria de quebrar muita coisa e se contenta em aparecer domesticada sob a forma de uma úlcera”.
        No fundo, o saudoso mestre dizia que “tudo se mobiliza para um único fim: engolir as dietas sem gosto preparadas por quem sabe mais. A ansiedade tem esse estranho poder: ela torce o corpo e o obriga a fazer coisas que ele não deseja saber. Forma refinada de tortura”.

         E sabe de onde ele partiu, nesse tema ansiedade?        “Lembro-me de uma advertência que se encontra, se não me engano em Ubatuba. Quando o jovem se assenta no trono, para um momento de concentração fisiológica, sua atenção é atraída por duas linhas cuidadosamente escritas: ‘Enquanto você está aqui cagando, há um japonês estudando...”.     

    Enfim, um grande pensador que se tornou imortal por suas reflexões tão concretas. De forma especial, agradeço às amigas Ieda Ribeiro e Louise, suas antigas alunas, pelas belas prosas e saudosas recordações desse mestre.                                                                                                                                     Viva Rubem Alves!                            

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