terça-feira, 18 de junho de 2013

LEMBRA, EMÍLIO?

               
Namoro na Mantiqueira (Arquivo JRS)

                De vez em quando me ponho a pensar em situações que parecem estar tão longe...Resolvo escrevê-las e me dou conta que estou fazendo algo de encontro ao que disse o poeta Heine, um alemão que adorava salsichas: “É moeda antiga, refundida por ti e novamente lançada à circulação com outro cunho e outro brilho”.
                Por estes dias, saindo dos Correios, encontrei o Emílio Campi, um amigo de infância dos bons tempos da Praia do Perequê-mirim. O ramo dele é comunicação, com destaque para o jornal Maranduba News.
                Em meados da década de 1970 a Família Campi se mudou para Ubatuba, foram morar numa chácara que pertencia à família,  ao tio Aldo, nas imediações da família Barreto. A mãe, a saudosa dona Helena, foi a primeira motorista que eu conheci. Fazia sucesso em sua Kombi. O cachorrão preto tinha o nome de Terremoto. Tilinha e Hermínia eram as irmãs do Emílio.
                Um dos irmãos Campi tinha uma propriedade no Sertão do Perequê, próximo do rio. Seus vizinhos eram o Bráz, o Dionísio e a dona Júlia. Como era lindo por ali! Quanto ingá-feijão eu não debulhei por ali!? Numa ocasião, precisando de alguém para roçar o mato pelas divisas, ele contratou o Dito Costa, um caipira que morava  perto do Dito Funhanhado. Explicou-lhe todo o trabalho ao mesmo tempo que conversava com a carinhosa esposa. Esta o tratava por “benzinho”. “Benzinho, explica para o seo Dito que não pode cortar as helicônias”. “Benzinho, chama o seo Dito para tomar um suco”. “Benzinho, vai até o açougue do seo Antônio Valério e pede para o Zé Canela tirar uma peça inteira de picanha para eu assar”. “Benzinho, dá uma passada na praia e vê se o Itagino pescou carapau”...
                Depois das instruções e de um lanche reforçado, o Dito Costa pegou as ferramentas e se embrenhou no mato. Um cachorro vira-lata era a sua companhia; de vez em quando abocanhava um preá e deixava aos pés do dono para ser depositado no embornal. Umas cobras padeceram na roçadeira. De repente bateu uma dúvida: será que o terreno continua depois do rio, morro acima? Preocupado em não fazer serviço mal feito, o jeito era voltar até a casa do patrão e perguntar a respeito disso.
                O nome do homem era diferente, mas...  “gente rica escolhe o nome que quiser; tudo fica chique”. Conforme avistou o paulistano gostosamente desmontado na espreguiçadeira em cafunés com a amada, o Dito tascou:

                - Seu Benzinho, faz o favor de tirar uma dúvida: onde é mesmo a divisa da terra do senhor?

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