quarta-feira, 19 de junho de 2013

CORTIÇO EM FESTA



Papão 
       A amiga Fátima Souza registra neste texto a tradição caiçara que continua no espaço deixado pelos avós Sebastião Rita e dona Josefa. As novas gerações mantêm os eventos que as unem, reforça a cultura caiçara do Itaguá e nos dá muita alegria. Abraços a esse pessoal maravilhoso! Ah! Como é bom se recordar da alegria do saudoso João de Souza em ocasiões assim!

     No Itaguá ainda têm remanescentes de caiçaras. Depois de perderem seu espaço natural de fazer festas para o tão chamado progresso que corrói, impõe e aniquila com as tradições locais, ainda resta um nicho de conhecimento e sabedoria, principalmente de coragem e vontade de agregar valores, respeitar as tradições e fazer as festas conforme eram nos tempos dantes.
   Este espaço é lá no CORTIÇO. Um quintal aconchegante onde de geração para geração é passado seus costumes e tradições, para que todos saibam e respeitem suas origens.
     Também sou de lá. Já comandei essas festas. Como meu pai, como meus avós e demais antepassados. Hoje é o Papão e Lisandra que com a ajuda da família e agregados comandam a Dança de Congada, Folia de Reis e organizam a Grande Festa do Cortiço em junho.
     A festa é como era antigamente. É só chegar e participar. Ao participante cabe colaborar com um prato, ou uma bebida alusiva a data. Nada é cobrado. Não é essa a intenção.
   O que se espera é que todos se divirtam igualmente. Mais antes da diversão, tem a devoção. A procissão do mastro de São João, cantoria de folia, a reza, aí sim, é só se acabar na Ciranda, Tontinha e Cana Verde, Dança do Chapéu, Caranguejo, danças típicas de Ubatuba, sob o toque das violas dos grandes mestres: - Seu Dito Fernandes, Senhores Foliões e a rabeca imperdível de Mario Gato. Haja fôlego!
    A Luciana faz um vinho quente dos deuses. Também se pode saborear o quentão, chá de amendoim, caldinho verde, pé de moleque de gengibre feito por Dona Elisa e principalmente a estrela da festa, a nossa Concertada.
   Numa mesa arranjada embaixo do cacaueiro, acontece explicitamente um concurso de bolos, doces e salgados trazidos por todo mundo.
    Me lembro do bolo de mandioca com recheio de goiabada da Dona Salete, hummmm! Tem também o bolo de fubá com erva doce de minha mãe. Sem comentários...
     É o pecado da gula! A turma fica com a barriga que é um porão de barco abastecido!
    Quer mais? Uma quadrilha de dezoito pares, muito bem marcada pelo mestre Élvio.
Final da noite, depois das crianças dormirem, grupinhos se formam para tomar todas ainda restantes e traçar comentários sobre a festa acontecida. Lógico que uma roda de causos se forma instantaneamente. E a risadalhada vai até as tantas. Vai até um mais velho mostrar que passou da hora de se recolherem. Houve-se só resmungo dos mais jovens...
     Dia seguinte o cortiço volta ao normal. Se é que existe normal para o cortiço.
     Sabe-se que naquele espaço todo mundo briga e reza unido. Tem que ser cem por cento corticeiro para ter a riqueza de ser simples e a arte de fazer belas festas sem tirar proveito financeiro disso. Só o verdadeiro prazer de viver e festejar.
     Esse ano não participei... ainda!
  Mas bebo sempre dessa fonte. Afinal também provenho de lá.
     Parabéns, família e amigos.
   Quem nasce no cortiço tem alegria no sangue e festa no código genético.

(Fonte: O Guaruçá)

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