sábado, 22 de junho de 2013

EXPERIÊNCIA NUMA COMUNIDADE ISOLADA

Mar....céu...costeira...Tudo é lindo! (Arquivo JRS)

                Relendo uns textos antigos, achei este da amiga Regina Azevedo. Trata-se de uma jovem professora que, corajosamente, idealista ao extremo, deixa a comunidade do bairro da Estufa II (em Ubatuba) e vai com muita animação para a comunidade do Saco do Sombrio, na costa da Ilhabela, bem distante do porto principal, por volta de duas horas e meia de canoa motorizada.

                “Se todo animal inspira ternura, que houve então com o homem?”

                É baseado neste princípio que não devemos perder a sensibilidade nem a ternura diante do trabalho que nos exige acima de tudo responsabilidade como educadores que somos, criando e despertando no educando a necessidade da auto contribuição para a mudança, por uma sociedade mais justa, livre e fraterna.
                Em 1992, numa reunião de avaliação com a fundação [Vivendo a Terra] e alguns professores, tive a oportunidade de conhecer o Pedro, a Vera, a Sibila e o Pedrinho – uma família que a seis anos morava na Ilha de Búzios, numa das comunidades isoladas de pescadores ao norte da Ilhabela. O trabalho deles não estava somente contido no ato de ensinar a ler, escrever ou contar, era (é) um trabalho que vai além dessa experiência. É um trabalho de interação com o meio que exige acima de tudo, muita coragem e sabedoria. E só foi através deles que também hoje, eu estou tendo a oportunidade de trabalhar em uma outra comunidade isolada do município de Ilhabela –a na comunidade do “Saco do Sombrio” ou Paranabi (nome da escolinha). Foi minha primeira experiência no campo profissional, o que trouxe um enriquecimento bastante significante para meu autoconhecimento, embora muitas pessoas não acreditam que possam existir em comunidades, pessoas que sobrevivem em condições extremamente simples, ou ainda, de extrema pobreza. Essas famílias desenvolvem atividades agrícolas e a pesca artesanal como um meio de subsistência. Essas pessoas ainda existem, elas residem em casas de pau-a-pique (construídas pelos próprios moradores) - muitas ainda! -, sem o contato com a luz elétrica, vivendo à base do lampião a gás ou a lamparina, se locomovem através de pequenas embarcações com chuva ou sol, ou longas caminhadas que cortam a mata. A água é fonte de vida para todos nós. Para eles, essa água ainda vem de graça através das cachoeiras e/ou nascentes que ficam localizadas nas proximidades de suas pequenas casas. São famílias de pescadores que em si, a cultura caiçara (ou o próprio caiçara melhor dizendo), está em extinção, é uma cultura que caracteriza a própria identidade. Nela estão presentes os causos, as histórias, o artesanato, as brincadeiras, os brinquedos confeccionados pelo próprio caiçara, pelas crianças, a maneira de falar, de agir, de pensar, a religiosidade presente nas danças, nas rezas. Enfim, mesmo que muitos não reconheçam essa cultura, é preciso não deixá-la morrer. É por essas razões que devemos nos sensibilizar com a situação e passar a contribuir com a reconstrução do que ainda resta, utilizando instrumentos concretos que temos em mãos, de modo a fazer com que o educando assuma a cidadania e se comprometa com a transformação da realidade local. Essa experiência permitiu que eu conhecesse de perto a realidade que os cerca e a interação do trabalho educacional com essas comunidades. Para isso é preciso estar aberta, introduzir-se à cultura desse povo, ouvindo suas histórias, participando de suas festividades, brincadeiras, das atividades pesqueiras e agrícolas que acontecem.


                                                                                                                          Regina Natividade Azevedo

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