quinta-feira, 13 de junho de 2013

FOI EM UBATUBA !



Julinho Mendes 
Que tal a Igreja Matriz de Ubatuba, onde, no cume, bate vento sempre?


        Este texto do Júlio, há coisa de onze anos atrás, foi representado no BAMBU DE VEZ, do grande artista caiçara Bado Todão. Quanta coisa boa, quanto pirão e quanta diversão nas tardes de domingo!


       O que fazer com essa globalização e com essas mentalidades religiosas retrógradas que vão matando o espírito junino, as nossas bebidas e comidas tradicionais? 

       Viva Santo Antonio, o casamenteiro!

      Cipriano, como já sabemos, era lá das bandas de São Luiz. Do tipo coronel, mandava e desmandava; era viúvo e pai de uma filha só. Esta se chamava Margarida, moça prendada, mas muito namoradeira, namorava Antonio num dia e Pedro no outro.

   Sabedor daquela poligamia, Cipriano resolveu acabar com a situação, chamou os dois namorados de sua filha e fez a seguinte proposta:
     - Casa com minha filha o primeiro que, no dia 24 me trouxer o peixe chamado cavala pra eu fazer o tal Azul Marinho! Nesse dia, Margarida vai estar vestida de noiva no altar da capela, com o padre ao lado, esperando aquele que primeiro trouxer a cavala pra eu fazer o meu Azul Marinho!
     Pedro sorriu com a declaração do futuro sogro, pois era pescador e, embora difícil naquela época, sabia onde encontrar tal peixe. Antonio, coitado, entristeceu, era lavrador, sabia apenas cuidar da roça, nunca subiu numa canoa, mas pelo amor de Maria, daria um jeito na situação.
    Chegou o grande dia, 24 de junho, dia de São João, e como prometido Margarida estava de véu e grinaldas na beira do altar da capela a espera de um dos noivos, aquele que primeiro chegasse com a cavala na mão a entregar a seu pai. Ao lado do altar estavam também o padre, os pais dos noivos, o prefeito da cidade, o delegado, e muitos convidados, todos curiosos e ansiosos para saber quem seria o verdadeiro esposo de Margarida.
      Não demorou apareceu Antonio de braços com a mãe e trazendo um embrulho debaixo do braço. Margarida sorriu contente ao ver Antonio se aproximando, pois era ele sua maior paixão também. Antonio se aproxima, e diante do futuro sogro, fala:
    - Tá aqui coronel Cipriano, a sua cavala. Vamos fazer o casamento que sua filha agora é minha! Cipriano, que de peixe conhecia pouco, estranhou a grossura daquela cavala, e assim falou:
  - Mas Antonio esta cavala tá muito gorda e barriguda?!
   - É que a bicha tá com ova, coronel! Declarou Antonio.
   Vendo a alegria da filha, coronel Cipriano, cumpre sua promessa e manda o padre iniciar a cerimônia...
Já nos finalmente e para consagrar o casamento, o padre profere a tradicional pergunta entre os convidados:

    - Se tiver alguém contra esse casamento, que fale agora ou se cale para sempre?

    O silêncio tomou conta entre os convidados, e não demorou uma voz lá de fora se pôs a gritar:
    - Eu tenho, seu padre, eu tenho!!!
 Era Pedro que chegava todo arregaçado, esfarrapado, segurando pelo rabo uma enorme e verdadeira cavala.
   - Tá aqui coronel, demorei, mas consegui pescar uma cavala! A sua filha é minha!
   - Agora é tarde Pedro, Antonio chegou primeiro e me trouxe uma bonita cavala ovada.
   Desconfiado, Pedro pede para ver a tal cavala que Antonio trouxe.
    - Isso é baiacu pintado de cavala seu Cipriano, não tá vendo que ainda tá com tinha fresca?!
   A confusão estava formada. Embravecido Cipriano que não é de descumprir palavra, tira Antonio do altar e coloca Pedro ao lado de Margarida e manda o padre continuar a cerimônia.
   Margarida não se contem de alegria e sorri abertamente, porque Pedro era seu amor também, mas tava com dó de Antonio.
     O padre gostava de um bailado e para acabar logo com aquela bagunça, fez novamente a pergunta para consagrar o casamento:

    - Se tiver alguém contra esse casamento, que fale agora ou se cale para sempre?

    Margarida olha pro lado e vê Antonio em prantos, e lembrando de suas safadezas com ele, é ela quem responde ao padre:
      - Eu tenho seu padre!
   - Que é isso minha filha? Pergunta surpreso o padre.
    - É isso mesmo seu padre, eu sou contra o meu casamento com Pedro ou com Antonio sozinho. Só caso se for com os dois!
     - Que é isso minha filha? Pergunta agora arrepiado o coronel Cipriano.
     - E papai, eu só caso se for com os dois.
    - Você tá ficando louca, onde já se viu uma coisa dessa minha filha?
     - Não estou louca não papai, eu estou é grávida, e não sei se o filho é de Antonio ou é de Pedro.
    Os convidados estavam de boca aberta, o padre tava mais vermelho que melancia pro lado de dentro e o pai da noiva, de tão nervoso que tava, apertava tanto o seu baiacu, que fazia o bicho soltar fumaça pelo olho.
     - Se é assim, minha filha, você vai casar com os dois! Colocou Antonio de um lado e Pedro do outro e ordenou ao padre que fizesse o encerramento do casório.
    O padre não tendo como desobedecer a ordem do coronel, assim declarou:
    - Até que a morte os separe, eu os declaro maridos e mulher.
  - Vamos pro baile pessoá que a fogueira tá queimando e a sanfona vai tocá! Ordenou o poderoso coronel Cipriano, que saiu abraçado com o padre, segurando o baiacu e a cavala trazidos pelos genros.
E a festa no arraiá foi até o sol raiar, com direito a dança de quadrilha marcada pelo padre, café de cana, quentão, pipoca, doces, salgados, e pra fortificar os convidados, não faltou o azul marinho com pirão de banana verde.
(FONTE: O GUARUÇÁ).

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