terça-feira, 17 de julho de 2012

UMA FUNÇÃO AOS CAUSOS


Viva os nossos causos! Saúde aos nossos caiçarinhas!

                De vez em quando alguém me questiona sobre os causos de pescadores, caçadores e outros. Eu discorro sobre alguns aspectos, faço a pessoa rir, mas, no final, não sei se ela entendeu muito bem o que eu quis lhe dizer. O que deve prevalecer como objetivo de toda narrativa é uma reflexão significativa, capaz de reorientar o viver. Explicarei melhor:

                Importante mesmo, diante de um causo, de uma história fantástica, de um mito, não é lhe  dar crédito, mas sim não ter dúvidas sobre seu significado. Por isso, quem faz de tudo para transformar personagens desses gêneros em algo verossímil, está produzindo um tipo de sabedoria no mínimo inadequada. Conforme disse Sócrates há muito tempo, na Antiga Grécia: “Eu  não tenho tempo para dedicar-me a tais ócios”.

                Ainda no mesmo desafio de produzir um conhecimento que eleve o ser humano – e a humanidade! - continua o pensador grego: “Por isso deixo tais coisas onde estão, e não penso nelas, senão em mim mesmo, quando medito se sou uma criatura de constituição mais complicada e monstruosa que a de Tífon [filho do Tártaro e da Terra que se insurgiu contra Júpiter. Depois de vencido, foi enterrado sob o monte Etna], ou se, quem sabe, sou um ser de natureza mais suave e simples, dotado de alguma essência nobre e ainda divina” (Ver Fedro, Platão).

                Eu acredito que as duas dimensões (monstruosa e nobre) estão igualmente em potência no nosso ser. A sabedoria é quem dará um encaminhamento para as suas manifestações/realizações. Um exemplo caseiro: a minha esposa, percebendo as crianças trocando farpas em várias ocasiões, dá-lhes uma bronca e discorre acerca do ódio gratuito, demonstrando, através de notícias do cotidiano, no que ele (ódio) pode desembocar. Mas eu sei também de pais que estimulam a violência desde os primeiros anos de seus filhos! Certamente que os frutos serão colhidos. A recompensa pode ser os Campos Elíseos ou o Tártaro. Nisto a titia Maria da Barra sapecaria um Cruz-credo!

                Finalizando: a cultura, desde os nossos causos locais até a avançada tese científica que está sendo produzida neste momento, é um modo de produção criativo da consciência que, desejo eu, deve nos conduzir a uma essência nobre.

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