Capim milagroso - Arquivo JRS |
Santa Luzia, na religiosidade católica, é a protetora da visão, dos olhos. Ela era italiana, de Siracusa. Viveu no século IV e foi martirizada no começo do século seguinte, em 404. Minha vó Martinha contava que ela distribuiu sua herança com os pobres e se recusou a casar porque preferiu se consagrar a Deus. Naquele tempo de tantas barbáries era comum a perseguição aos cristãos. “Na frente do homem que estava maltrando, forçando para que aceitasse outros deuses, ela preferiu arrancar os olhos. Por isso é que rezamos a ela para proteger os nossos olhos, a nossa vista. Dia 13 de dezembro é a festa dela. Quando eu era criança, na praia do Pulso, a festa de Santa Luzia era na casa do tio Cesário”. Eu achava uma história triste, de terror. Com o passar do tempo é que fui entendendo mais coisas nesse assunto.
Vovó, caiçara de Ubatuba, mostra bem clara da linda miscigenação do povo brasileiro, entendia de plantas, sabia dos poderes das ervas. Numa ocasião, quando o mano Jairo estava com alguma doença atrapalhando a visão, vovó foi quem o socorreu recorrendo ao capim Santa Luzia. É fácil usar essa gramínea que é farta não só nas terras arenosas do litoral. Basta retirar a sua fina haste e ir espremendo até aparecer uma gota líquida transparente na ponta. No fim, pinga essa gota nos olhos, tal como o colírio que se compra nas farmácias. É tiro e queda; tá aí o meu irmão para testemunhar o milagre de Santa Luzia!
Dias desses, ao visitar o meu irmão e familiares, ganhei uma muda de goiabeira. Junto veio um capim Santa Luzia. Com certeza será bem cuidado para se alastrar em outras terras.
Viva a sabedoria popular! Viva a religiosidade do nosso povo!
Um detalhe: enquanto ia vasculhando os espaços em busca do tal capim, vovó seguia repetindo este refrão: “Santa Luzia passou por aqui com seu cavalinho comendo capim”.
Vô Estevan e vó Martinha - Arquivo JRS |