terça-feira, 24 de dezembro de 2024

DESAFIOS ÀS COMUNIDADES

 

Paisagem - Arquivo Clóvis 

    O mar estava calmo, azul e clarinho em seus movimentos. Eu olhei para o morro que está perto. As carobinhas estavam floridas, arroxeando o verde em seus tons. Um barco pequeno pescava por ali. Eu acompanhava tudo, queria ver o trabalho deles. Duas canoas sobressalentes eram parceiras do barco. Todo o conjunto era pintado na cor lilás. Motores pequenos, mas possantes, garantiam o sucesso da pescaria onde todos se empenhavam, pareciam ter pressa.

     Findada a pescaria, nos dirigimos à ilha chamada por todos de "Aconchego do Japonês", que há décadas decidiu vir para o litoral. Ele fez um grande esforço para conseguir a permissão de uso, de se instalar ali. Sempre se relacionou muito bem com os pescadores nativos. Foi quem ensinou a pesca do cerco e a criação de mariscos, de mexilhões, em boias.

     Já na ilha, subimos um morro para alcançar o agrupamento de casas.  Avistei uma árvore carregada de frutos pretos, tipo jabuticabas. Perto dela um altar, velas acesas e uma árvore em miniatura, da mesma, também repleta de frutos. Talvez fosse a ameixeira do mato, da mesma que eu tenho no terreiro, cuja procedência era a Mata do Zarur, no Ipiranguinha. Quis pegar uma fruta, mas fui alertado que não devia porque era parte de um ritual em agradecimento pela cura de uma mulher dali da comunidade. O anfitrião me explicou: “Ela estava toda arranhada, teve uma crise nervosa”. Imaginei o sofrimento dela e da comunidade. O altar e a devoção de toda gente pelo infortúnio me revelaram isso. Depois de muitas prosas e bons momentos, me despedi.  


   Este relato é apenas para dizer que a comunidade nos sustém em todos os momentos, mas sobretudo quando mais precisamos. Acordo sobressaltado porque, nesses lugares que há séculos é garantido o viver caiçara, as comunidades de roceiros-pescadores, agora há um crescente interesse imobiliário, querem privatizar as chamadas Áreas da Marinha. Parlamentares reacionários em todas as instâncias, eleitas pelos votos dos pobres,  recebem propinas para aprovarem esta e outras maldades contra esse meu povo. Como proporcionar reflexões importantes a  essa massa, a esse povo trabalhador que faz o Brasil ser o que é? O que resultará dessas medidas bancadas às custas dos contribuintes? Quem lucrará com isso?

Nenhum comentário:

Postar um comentário