sábado, 1 de junho de 2024

AINDA O MESMO ÓCULOS?

A colheita acontece - Arquivo JRS

     

           O dia estava  frio. Bem cedo sai para uma pedalada, ir ver o sol despontando sobre o morro da Ponta Grossa e iluminando toda a orla desse mar maravilhoso que acolhe toda espécie de público. E, ainda bem, é público!  

    Me vendo por ali sentado, aos pés de uma frondosa amendoeira, o Fonseca se aproximou. Explico de quem se trata: foi um dos velhos conhecidos que me evitou na ocasião da última eleição para presidente do Brasil. O motivo? Defendia a continuidade de um candidato notoriamente contra o povo pobre, negacionista, genocida, corrupto de carreira, malcriado etc. Eu sempre disse que seus apoiadores deveriam partir desta questão: Por que o Exército não o quis em suas fileiras? Só essa verdade alcançada já seria motivo, razão para que tipo assim, com adjetivos horrorosos, jamais ocupasse cargo público. Nunca deveria ser legislador um sujeito com histórico desse.

    Voltando ao meu momento, quando eu contemplava o mar. Percebi a chegado do Fonseca, cujos pais caiçaras eu conheci bem. Eram humildes e honrados. O pai era pedreiro e a mãe fazia faxinas, cuidava de casas. Esse conhecido foi logo me cumprimentando com tapinhas nas costas, também se mostrando admirado com o dia radiante. De repente entrou no assunto político, elogiando os parlamentares que votaram contra a possibilidade de regulamentação das mídias, lei que poderia punir as deslavadas mentiras que tanto mal causam à sociedade, inclusive favorecendo o surgimento de uma escória parlamentar a votar continuadamente contra os pobres e prejudicando o país como um todo; apoiando guerras, genocidas etc. Ah! Eu não aguentei! “Não me venha com essa lenga-lenga de novo, Fonseca. Você, batalhador como eu, continua defendendo o ponto de vista dos mais ricos, dos exploradores da nossa gente? Você sabia que essa base parlamentar reacionária, que você ajudou a eleger, está querendo privatizar até as praias e costeiras? Me poupe deste papo furado! Por que você não troca de óculos para poder enxergar melhor a realidade? As suas lentes estão desgastadas, superadas há bastante tempo. Deveria se envergonhar dessas “verdades” que você e outros tantos abraçaram. Basta de ser reacionário, né?”.  O Fonseca ficou sem palavras, mas eu não: “Agora vaza, deixa que eu continue sendo feliz aqui, contemplando tudo isto, pensando na vida e nos meus. É um favor que você me faz. Vaza daqui, suma logo”.

     Conclusão: esse conhecido de décadas é um miserável  como tantos outros que, graças às escolhas midiáticas e a preguiça em fazer boas leituras, deixaram de pensar por si mesmos, perderam a autonomia reflexiva e acabaram sendo direcionados pelos interesses e mentiras de uma reduzida classe social: a dos exploradores do povo. Essa gente, parcela considerável da nossa sociedade, deveria fazer uma revisão de vida, deixar de ser reacionária, querer um mundo melhor para todos. Esta é a grande utopia. Troquemos de óculos para enxergá-la. Conforme escreveu Pascal, “toda a nossa dignidade consiste no pensamento”.

    Última questão: Como ficarão as mentes que passarão pelas escolas cívico-militares? Pensa aí, Fonseca!

  

Nenhum comentário:

Postar um comentário