sexta-feira, 28 de junho de 2024

VIDA DE GADO

 

Lenhadoras - Arquivo JRS

    Meu amigo Francisco é dono de gado pobre. Irene também. Umas poucas vacas de gente assim garantem o leite de cada dia em muitos rincões da Pátria. Gado rico não avistei por aqui, mas sei que dominam vastas áreas por este Brasil afora. O que resta aos pequenos, têm para garantir parcos rendimentos, é gado pobre. Assim é a vida: tem gado pobre e tem gado rico.

     O gado rico é gordo, tem pelagem bonita, sem nenhuma praga encrustada etc. O gado pobre é feio, carregado de carrapatos e bernes, esquálido, enche o estômago com qualquer coisa. Ração especial nem pensar! Numa analogia ideológica, dizem por aí que esse gado pobre é da “prateleira de baixo, só serve para votar”. Eu também me valho dessa alusão para  dizer o que é notório: as religiões, quase todas, também exploram o gado pobre.

   Continuando na analogia: pastores e padres, sobretudo essas lideranças, têm suas preferências, suas ambições: uns se voltam para o gado rico, outros não se descuidam do gado pobre, reconhecem que carece da religião, confirmam a frase de que “religião é um bom refúgio para os marginalizados”, conforme escreveu Rubem Alves. Padre Júlio, de São Paulo, é um bom exemplo.

  Não é de hoje que esse gado pobre “está entre a cruz e a espada”, de acordo com o ditado popular. Faz tempo que é essa a situação, mas agora fiquei sabendo de um absurdo: a Câmara Municipal da cidade de São Paulo aprovou uma lei que multa em numa soma alta quem doar alimentos aos pobres, aos empobrecidos que moram pelas ruas.  Nós estamos, para usar um termo cristão, destinados a tomar partido nesta “eterna batalha entre Deus e o Diabo”. Assim os rumos do mundo seguem sendo definidos. Depende de cada um de nós a realização de bons sonhos ou de terríveis projetos para a humanidade. Ainda conforme o pensador natural de Boa Esperança (MG), “peca-se por fazer e peca-se também por não fazer”. Ah! Neste Brasil gado vota!     Há vida de gado em cima de tantos gados!

sexta-feira, 21 de junho de 2024

SÃO PEDRO DOS PESCADORES

 

Saida da barra - Arquivo internet

    Dou um passeio pela cidade, estou à deriva olhando os logradouros que quase não presto atenção. Tem coisas interessantes deixadas nas calçadas, plantas diferentes pulando por sobre os muros, cachorros que farejam alguma coisa para comer etc. Assim me aproximo da Ilha dos Pescadores, sinto o cheiro característico daquele local. A maré tá baixa. Passo no armazém do primo, olho os peixes expostos. Cada um mais atraente que outro. Deixo para depois o cuidado de escolher um deles, comprar e levar para o almoço de amanhã. Hoje farei a minha refeição em algum desses simples restaurantes próximos. Atravessei a ponte como um peixe que estava sendo atraído por alguma isca especial, mas eu sabia o motivo: era para ver os barcos sendo enfeitados para a Festa de São Pedro no próximo fim de semana. Dona Isaura estava descascando camarão como de costume, ganhando dinheiro para se sustentar. Os filhos se mudaram, estão casados, moram em bairros em torno da cidade, mas ela, natural do Ubatumirim, continua morando na Ilha, onde trabalha desde a madrugada. “Aqui não tem tempo ruim e nem bom, meu filho. Depende da pescaria, de peixe e camarão que o pessoal traz depois de labutar nesse mar de meu Deus. Estou acabando o serviço por hoje porque o Dominguinho me chamou para ajudar a enfeitar a baleeira dele. Quem que vai deixar de sair em procissão? São Pedro, nosso santo protetor, merece muito mais! Olha lá, na beira da barra. Tá tudo mundo se movimentando. O Ney Martins se tece pra lá e pra cá, corre atrás de um monte de coisa que o pessoal pede. Todas as embarcações precisam estar bem bonitas. Já se fala de, no próximo ano, construir uma capela aqui na ilha em honra de São Pedro”.

    Ainda bem que eu fui por ali, segui meu instinto caiçara. Foi uma oportunidade de prestar mais atenção ao movimento que antecede uma festa tão importante ao nosso povo, aos caiçaras de Ubatuba! Fui me detendo em cada embarcação mais próxima, cumprimentando velhos amigos e avistando novos rostos. Em dias assim, até as crianças e mulheres dos pescadores se fazem presentes, mostram seus talentos nas armações de bambus, nos varais de bandeirinhas coloridas e em tantos outros detalhes que farão nossa alegria quando se forem mar afora, acompanhando o santo, recebendo a benção das redes e anzóis, se animando para a vida de pescaria pelo ano todo, por toda a vida. A melhor surpresa foi reencontrar o querido Oscar, poder dar uma mão no empenho empolgado dele enquanto deixava linda a sua embarcação.

     Oscar nasceu na Ilha do Prumirim, mas bem novo veio para a cidade. Logo entrou na lida de pescador e nunca mais saiu. Dele eu guardei uma impressionante frase: “Você sabe, Zé, que depois de passar 10, 15 dias no mar, balançando dia e noite, quando a gente chega no porto até parece desequilibrado? Eu mesmo só consigo andar de bicicleta depois de um dia pisando em terra firme. O meu corpo não se afirma sobre a bicicleta. Se tentar eu caio na hora”.

   O tempo passou. As embarcações minguaram na procissão marítima, mas o evento continua fazendo parte da religiosidade de muita gente, do meu povo caiçara. Atrai turistas. Muitas pessoas queridas já não estão entre nós. Dona Isaura já é falecida há muitos anos. Seu mano Domingos também se foi. Oscar sofreu um acidente, deixou de ser pescador por esta razão. Ele e Luiza se casaram; tem netos há tempo. São como irmãos para mim. Eu os considero muito mesmo! Oscar é demais! Pensa numa pessoa que cativa as pessoas, é sempre afetuoso e preocupado com os mais próximos. Muito mais que isto é o Oscar. Que prazer poder ter ajudado ele naquele dia, naquela preparação à Festa de São Pedro! Que prazer poder recordar daquele tanto de gente, da empolgação deles sob a batuta do saudoso Ney Martins que veio de outras terras, mas se acaiçarou logo e em nossas memórias permanece. Quanta satisfação!

   Peço  ao nosso povo: não deixe morrer essas tradições que fortalecem nossa identidade e nos unem por nosso território.

  Viva São Pedro! Viva essa gente toda que garante o nosso peixe de cada dia!

segunda-feira, 17 de junho de 2024

OS CÃES UIVAM

      

Do alto da serra - Arte em casa - Arquivo JRS

    A cidade estava um caos, coisa imperceptível para quem olha do alto da serra em dias claros. Por todo lado era notório a necessidade de boas intervenções. Famílias estavam desnorteadas, procurando tábuas de salvação tal como náufragos em alto mar correndo a vista em busca de socorro, olhando desesperadamente quando qualquer canoa passasse causando lampejos de esperança. Subitamente eu notei o aparecimento de um animado grupo de pessoas. De onde veio eu não sei. Só posso afirmar que estava com uma condução repleta de coisas, significando fartura.

   Essas pessoas foram chegando e se acomodando, estavam bem à vontade. Imediatamente escolheram uma moradia na intenção de se acomodarem, como se estivessem passando férias no meio de tantos problemas, de muita gente angustiada. Logo deram a impressão que desejavam ajudar, auxiliar a multidão daquele  lugar que precisava muito. Pouca gente dali percebeu a  verdadeira intenção daquele grupo transbordante de iniciativas, pois no fundo estava velado o planejamento de se estabelecer naquela cidade e de poder negociar seus produtos, lucrar em cima da miséria de tanta gente e da farta natureza. Almejavam riqueza. Esta era a razão da alegria que transparecia naquelas pessoas forasteiras/visitantes vindas não sei de onde, mas se sentindo num paraíso naquela localidade onde explorar ao máximo - e sem pudor algum! - era facilitado por gestores há décadas. Tudo planejado para o sucesso de poucos às custas de irregularidades.

   É assim mesmo! Tudo planejado sobre a miséria (material e cultural) da maioria da população! Dessa barbárie irracional colhemos já manifestações assustadoras por parte da natureza e, sobretudo, dos seres como nós. Da razão pode brotar monstros. Podemos estar sendo parturientes de coisas horríveis, de fenômenos fatais e irreversíveis.  Tudo de pior pode continuar brotando na sociedade, em nosso meio, nessa cidade. Uma certeza minha: os jovens e crianças são os mais afetados.

    Nessa barbárie irracional há canoas sem rumo algum, ao sabor dos ventos e das marés. Espias se postam nos costões da minha terra buscando avistar bons sinais, dar boas notícias a todos nós que estamos numa realidade que não oferece nada, só vende. Marés subindo além da conta, desbarrancando praias, matas sendo destruídas, lixo por toda parte, ocupações irregulares (sobretudo de empreendedores vindos não sei de onde) etc. Tudo são  coisas que ninguém percebe do alto da serra! Não se trata então de um mundo abandonado pelos sentimentos humanizantes e pela razão? Eu resumo isso tudo como um descompasso entre a humanização, a tecnologia e o progresso.

  Ai que dor do mundo”, diria o Velho Saramago. Aqui termino o texto, mas a cidade parece dormir enquanto os cães uivam.

 

domingo, 16 de junho de 2024

À DIREITA

 

Vela se consumindo - Arquivo JRS

      A Europa que, em meados do século deixou para trás a onda nazifascista, substituindo-a pela democracia, agora, setenta anos depois, retorna aos braços desse fragelo da extrema direita política. São péssimas as notícias das terras de além-mar que chegam até nós. Os faróis se confundem, apagam, levam embarcações a sinistros; o mar não está navegável, mas os sobreviventes resistem porque a vontade de viver com dignidade é ainda maior, se apegam à luz da vela que ainda não se apagou, ao facho do farol que resiste às tempestades.  Só que é assustador ver pessoas se voltando contra a proteção social via sistemas públicos, universais e gratuitos de saúde, educação e segurança social; desejando o espezinhamento até a morte de seu semelhante empobrecido por um sistema econômico cruel adotado no mundo. Essas pessoas dizem com empáfia: “Dane-se a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Quem puder mais que chore menos”. Por decorrência lógica, apoiam genocídios praticados por governantes cruéis que almejam varrer da Terra povos inteiros, extinguir pátrias milenares, se apoderar de bens em lugares impensáveis etc.

      Pior de tudo: o nazifascismo cresceu seus tentáculos mundo afora, afetou o meu povo e o coloca contra a democracia, a favor da tirania contra os pobres. Triste ver desvanecerem as esperanças juvenis, os alentos aos mais idosos, os sonhos de reforma agrária, dos direitos dos povos indígenas, dos quilombolas e de todas as minorias sociais. Dá-se adeus aos direitos trabalhistas conquistados com tantas lutas e mártires. As leis ambientais, brotos ainda tenros, estão sob pisadas de usurpadores do bem público, de poucos que cobiçam o patrimônio brasileiro. Quem defende a nacionalização das empresas agora é taxado de reacionário. Os faróis se confundem, apagam...Embarcações afundam, parecem anunciar a nossa ruína enquanto humanidade.

     Quem sofre mais com isso tudo? A juventude! As novas gerações que vão despontando na minha terra e em países distantes! Certamente que o remédio não está no neoliberalismo. A minha cultura caiçara e tantas outras que fazem a beleza da diversidade terrestre correm riscos, podem desaparecer sob esses tentáculos medonhos. Ousemos pensar frente a este mundo que está girando à direita.

sexta-feira, 14 de junho de 2024

EU TENTO

   

Sol despontando - Arquivo Clóvis

  Eu  começo a escrever pensando nos muitos aspectos da cultura caiçara possíveis de serem abordados, mas me descontrolo e me volto à manipulação religiosa reinante - e prejudicial! - entre o meu povo. Me pergunto da razão de tantos diferentes locais de oração existirem nos bairros pobres. Alguns são templos enormes, mas muitos são cubículos improvisados onde antes funcionava uma quitanda, um brechó, uma bicicletaria etc. Reconheço que há picaretas, pilantras se aproveitando da fé da nossa gente na maioria das denominações religiosas. Pastores, padres e outros dependem da fé deste meu povo no sagrado, mas nem todos eles estão a favor dos fiéis que os sustentam. Deve-se sim “separar o joio do trigo”, “retirar a batata podre do meio das outras”, punir esses mercenários da fé. Por outro lado, é louvável todas as lideranças religiosas que, sob influência da teologia da libertação e outras de semelhante teor, atuam por toda parte, se tornam essenciais nos movimentos de resistências populares (sem-teto, sem-terra, minorias sociais etc.); são elas que dão uma real luminosidade às multidões desamparadas que se apegam à religião a fim de se decidirem por valores a serem seguidos na orientação de suas vidas.

    Na minha concepção, a arte e a cultura, por estarem num plano superior, podem aclarar opções individuais, motivar ações solidárias e atuações políticas aos grupos e indivíduos que resistem a todo tipo de tirania, a toda forma de opressão. Faço apelo aos fiéis da nossa terra: Sejam honestos, tenham a vida como farol. Sintam vergonha de apoiar esses Filhos do Coisa Ruim que se transvestem de religiosos, de demagogos da politicagem. É uma decisão humanitária não estar como adeptos de quem, descaradamente, deseja negar a vida digna para nós, maioria da população. Consta que o inspirador do cristianismo falou: “Eu vim para que todos tenham vida; que a tenham em abundância”. Outras vertentes religiosas também têm inspirações excelentes. Que bom seria reavivar estas por todos os momentos da nossa vida! A nossa geração e as vindouras precisam viver num mundo melhor. Recriar o paraíso aqui é desafio antigo. É parte do ser humano querer uma vida melhor, sem sofrimentos.

  Pensemos seriamente na responsabilidade que temos. Nem a cultura caiçara e nenhuma outra resistirão se escolhermos o caminho errado (que é largo, cômodo, individualista, tentador e por aí vai).

 


terça-feira, 11 de junho de 2024

AONDE VAI ESSA HISTÓRIA?

  

Nossa cachorra descansando - Arquivo JRS

   Era quase noite quando o casal vizinho veio me contar uma história trágica de pais que se separaram há anos, mas no final, para se vingar da ex-companheira, o homem deu veneno ao filho. “Foi assim: a criança foi levada à escola pelo próprio pai. Na mamadeira estava diluído o veneno conhecido como chumbinho. Tendo planejado culpar a escola, o terrível homem jogou a embalagem do produto letal no cesto de lixo dali, onde a criança passaria o dia. Foi pego porque ele não sabia que no pátio do estabelecimento havia uma câmera. Resultado final: a investigação levou à verdade. O criminoso foi preso”.

   Depois que ouvi essa macabra história (que eles souberam pela televisão), voltei a refletir sobre o mal que pode causar esse tipo de reportagem. Narrativas dessa espécie pode contribuir com algo de bom? Eu desconfio que essas histórias reforçam os discursos moralistas tão explorados pelos políticos reacionários. Estes sabem que esse tipo de isca é perfeito para desviar o foco de temas fundamentais, capazes de revolucionar o pensamento político brasileiro. É recorrendo a apelos emocionais que uma escória política encoberta a verdade, engana o povo; vive às custas deste que acaba abraçando a mentira como verdade. O velho Nietzsche previu o seguinte quando a verdade for revelada: “Teremos um espasmo de terremotos, um deslocamento de montes e vales como jamais foi sonhado”. Na sequência, revela o estado da política no século XIX: “A  noção de política está completamente dissolvida em uma guerra dos espíritos, todas as formações de poder da velha sociedade [...] se baseiam na mentira". O que ele espera desse quadro pavoroso? "Haverá guerra como ainda não houve sobre a Terra”. O filósofo ousa um pouco mais, atribui a professores e teólogos decadentes uma parcela de culpa a essa elevação da mentira como verdade como “oculto desígnio de vingar-se da vida - e com êxito!”. Ah! Como esse triste cenário está evidente, sobretudo agora com a notícia de que os extremistas fascistas ganharam mais espaço na realidade política europeia! 

     Enfim, notamos uma absoluta desvalorização da vida sem precisar assistir desses programas televisivos. Trata-se de uma evidente crise da razão, da negação da vida, de um retorno da humanidade à barbárie. Determinados grupos, detendo modernas tecnologias e as rédeas do poder, não parecem dispostos a promover a autonomia do ser humano, nem de libertá-lo. Neste momento digo o que muitos já disseram: estar repleto de informações não significa ter o conhecimento e, muito menos, alcançar a sabedoria. Essas informações horrorosas, que contagiam o senso comum pelo arcabouço moral, se tornam o melhor instrumento de dominação. 

   Depois de se despedirem de mim, após contarem a horrível história, o marido e a esposa, devidamente trajados, portando uma Bíblia, se dirigiram à igreja. "Estamos indo ao culto. Tenha uma boa noite, Zé". É, pois é. Dizem por aí que estamos na era da pós-verdade. Me digam vocês, professores e teólogos decadentes, acerca desse levante obscurantista fascista: aonde vamos?

domingo, 9 de junho de 2024

LEMBRANÇA E SAUDADE

   

Jose e Dodô - Arquivo pessoal

  Há uma semana vivemos grande tristeza com a partida da Joseana. Além dos sentimentos expressados por tanta gente presente no velório, ainda chegaram as mensagens de conhecidos dela e nossos. Gratidão a vocês que sentem conosco a ausência dessa sobrinha e amiga que tanto amamos. Ela está entre as estrelas. Restou a nós lembrança e saudade de tudo que vivemos juntos.


Meu nome é Amanda, uma das sortudas por ter a amizade da Josi. Meus sentimentos a toda a família. Tem sido difícil para mim que ela esteja tão longe... mas tão perto, ainda em nossos corações. Passei a cantar uma música para ela desde que soube da sua partida, a qual dedicarei para essa incrível mulher. Suas memórias me fizeram lembrar do jeitinho meigo com que ela partilhava a sua história. Muito obrigada. Um abraço. (Amanda)]


Quando fiquei sabendo de sua partida, fiquei em choque. Menina inteligente, gentil e muito amorosa. Meus sentimentos a toda a família. Agora nossa "Jose" é mais uma estrelinha no céu. (Lúcia Gomes)


Obrigada por compartilhar essas memórias conosco. A Jô vai fazer muita falta, ela continua sendo incrível. Enquanto cada um de nós existirmos, ela vai continuar existindo e viva em nós. (Hingryd)

 

Lamento muito (Gabriel Fernandes)

 

Meus sentimentos, Zé. Não conheci sua sobrinha, mas fiquei muito comovido com sua morte. (Jorge Ivam)

 

Meus sentimentos à toda sua família Professor José Ronaldo! Certamente a Josi é a estrela mais linda do céu! (Ana Lídia)

 

MacGyver era um verdadeiro paradoxo, mesmo estando sempre de roupas pretas ela conseguia brilhar com sua luz. Não tem como não olhar pro céu e não pensar nela. Meio clichê, mas pra mim ela virou uma estrela e vai continuar a brilhar Todos temos lembranças e vivências maravilhosas com a Josi. Obrigada por essa mensagem linda que você deixou ❣️ Fica a lembrança e a saudade. (Letícia Zago)

 

Aprendi muito com ela e tivemos várias aventuras divertidas. Sua ausência será sentida, é um momento triste de despedida, mas também sou grato pelas memórias que ficaram. (Rodrigo Fonseca)

 

Obrigada por compartilhar conosco. Josi foi muito amada pelas pessoas que fez amizades, sou grata por ser uma dessas pessoas, e muito triste com sua partida. Meus sentimentos a toda a família! (Carol Barros)


Obrigado, por compartilhar essas memórias lindas da Josi com a gente. Ela era muito, muito amada. Ela tocou na vida de muita gente e a memória dela vai estar pra sempre com a gente. A despedida é triste, mas eu vou lembrar do sorriso dela com cabelo roxo e as roupas de roqueira. E do amor que ela tinha por tudo o que você mencionou nas suas memórias. (Rafael Calsaverini)

 

sexta-feira, 7 de junho de 2024

LIÇÃO DE CRIANÇA

Joseana e Carla - Arquivo Ana

Joseana e Mônica - Arquivo Mônica


     Naquele momento de muitos soluços, de abraços expressando sinceros sentimentos pela partida repentina da nossa querida Joseana, fui me recordando da sua passagem entre nós, da menina curiosa, sempre querendo ajudar em alguma coisa. Adorava diversões, sobretudo passeios pelos espaços lindos que nos circundavam em Ubatuba. Eu comentava tudo isso com um dos primos presentes, entrei em detalhes de várias ocasiões. Uma delas, quando a Jose era uma garotinha de cinco anos, nós passeávamos na Avenida Iperoig por debaixo das árvores e coqueiros dali. Era um fim de tarde tranquilo, com pouca gente fazendo o mesmo. Íamos de mãos dadas. De repente, uma pessoa que cruzou o nosso caminho jogou uma embalagem de biscoito no gramado. Adivinha o que fez a menininha? Se soltou da minha mão, foi até o lixo largado por alguém de pouca educação, recolheu-o e continuou andando até achar uma lixeira distante para depositar aquela porcaria de um ser irresponsável. Sem falar nada, sem eu ter comentado nada ela me deu uma importante lição naquele dia distante: devemos ser exemplos às gerações mais novas, mas também precisamos aprender com elas. Nisso o meu primo, morador do bairro da Estufa desde que nasceu, interferiu com o seguinte comentário: “Pois é, Zé. Ela, desde novinha, aprendeu a importância da limpeza, da organização. Agora, se você for no nosso bairro que era tão gostoso de se viver vai se desgostar, ficará triste de ver tanta sujeira, tanta coisa errada e tudo muito feio. Você acredita que até a casa que foi do meu avô agora abriga um bar, vive sempre cheio de pingalhadas?”. Um dos tios, participante da prosa, imediatamente entrou com esta fala: “Não é só lá não! Onde eu moro também tá assim. Eu tenho nojo de olhar no rio no qual até pouco tempo a gente se refrescava, onde as crianças brincavam. É lixo, plástico de todo quanto é tipo...É esgoto mesmo! De fossa, de pia...de tudo! Aonde vamos parar?”.

      Pois é. Talvez por isso, vendo tantas coisas gritantes, tantas injustiças, tantas alterações para pior em nossa realidade, a Jose foi se afastando de Ubatuba, do nosso meio. Quantas lições eu aprendi com as crianças, com a nossa querida Jô?!

terça-feira, 4 de junho de 2024

ROCK NO ESPAÇO

Nossa Joseana - Arquivo pessoal


        Nasceu Joseana, mas o mano Jairo logo na brincadeira chamou de “Gurana” essa nossa querida sobrinha que passeou entre muitos como “Josimacgyver”. Ela adorava o ritmo do rock e os corpos siderais deste infinito universo que nos rodeia. “Somos poeira das estrelas, tio Zé”. Seu telescópio andava à tiracolo. Manjava muito de imagens celestes, dessa maquinaria moderna, de computadores e suas tecnologias. Desde sempre adorava viver adornada sob a admiração de mana Ana e de todos que a rodeavam. Que parceria linda formava com a prima Mônica! "A preta e a branca": nossas duas primeiras sobrinhas. Uma fotografia das duas abraçadas preenche a minha saudade desde quando as levei até a Praia Grande. Hoje não sei dizer como carreguei as duas bebês na minha velha bicicleta por quilômetros. Nem sei como a Ana e a Lúcia, as mães, deixaram que eu fizesse aquilo!

      Nasceu Joseana, adorava festas; sempre se vestia a caráter para o eventos. Que maravilhosa leitora! Era costume chegar de viagem e me mandar recado: “Cheguei, tio Zé. Pode trazer aquele livro para mim?”. Geralmente era um título de uma série que ela havia começado a ler no período de férias anterior. Coisa comum dela: se recordar com muita empolgação das nossas festas juninas. “Tô com saudades das nossas festas, tio Zé. Quando vai ter outra?”. Minha Gal, nessas ocasiões, preocupada com as alergias da Jose, preparava umas receitas diferentes. A comemoração no quintal do Clóvis foi nossa última festa natalina em família. Nosso último Natal juntos. Assim quis o destino.

   Nasceu Joseana, foi estudar Física em São Carlos. Acredito que nunca antes teve estudante caiçara de Ubatuba nesta área do conhecimento. Foi com ela que conhecemos e passeamos pelos departamentos da Universidade de São Paulo naquela cidade do interior paulista, cuja paixão se deu assim que chegou. Repetiu muitas vezes: “Lá é muito bom, tio Zé. Eu não me acostumo mais em Ubatuba”. Sua maior satisfação foi ter atuado no observatório daquela região, ser monitora de eventos, proporcionar conhecimentos e alegrias aos visitantes. Foi graças a ela que eu e Gláucia participamos, no ano passado, de um evento no observatório astronômico de Brazópolis. Ela nos inscreveu e nos comunicou de que tínhamos sido contemplados. Sempre desejamos que ela fosse feliz.

  Nasceu Joseana. Era intransigente em alguns aspectos, adorava viajar e nunca deixava passar despercebida uma novidade. Cansei de ver roupas diferentes no cachorrinho Dodô, o Doroteio querido dela de “olhinhos de jabuticabas”. Ela, que adorava roteiros inéditos, agora está circulando entre os astros que tanto se dedicou em conhecer e explicar. No terceiro dia do mês junino ela nos deixou. É mais uma poeira nossa neste céu de claros e escuros; nos deixou e agora está passeando entre as estrelas e as galáxias que a alimentaram por tantos anos. Siga em paz, querida física-roqueira! Você fez a sua parte, deixou a sua contribuição em nosso ser. Continuarei sendo sempre o seu tio Zé. Beijos e abraços nossos, querida Jô. 

domingo, 2 de junho de 2024

VIVA A MEMÓRIA!

 

Amarelo e verde - Arquivo JRS

     

    Eu acordei cedo. Depois de ler algumas páginas, divaguei. Me vi, juntamente com minha família, tomando um gostoso café com leite numa padaria. Ah, que cheirinho bom de pão com manteiga na chapa! Em seguida, me imaginei encontrando velhos amigos, dando um forte abraço neles e proseando prazerosamente, nos recordando do sol brilhando para todos, de ventos e chuvas que enfrentamos juntos, do cheiro do mar invadindo os espaços, nos impregnando no jundu de saudosas melodias. Vieram à mente músicas que se remexem no peito e nos transportam a muitos momentos, a tantas pessoas queridas. Brota em mim uma lágrima de felicidade por estar vivo e poder experimentar estas sensações. 

   Viva a memória! Como disse o poeta, “tudo vale a pena se a alma não é pequena”.

sábado, 1 de junho de 2024

AINDA O MESMO ÓCULOS?

A colheita acontece - Arquivo JRS

     

           O dia estava  frio. Bem cedo sai para uma pedalada, ir ver o sol despontando sobre o morro da Ponta Grossa e iluminando toda a orla desse mar maravilhoso que acolhe toda espécie de público. E, ainda bem, é público!  

    Me vendo por ali sentado, aos pés de uma frondosa amendoeira, o Fonseca se aproximou. Explico de quem se trata: foi um dos velhos conhecidos que me evitou na ocasião da última eleição para presidente do Brasil. O motivo? Defendia a continuidade de um candidato notoriamente contra o povo pobre, negacionista, genocida, corrupto de carreira, malcriado etc. Eu sempre disse que seus apoiadores deveriam partir desta questão: Por que o Exército não o quis em suas fileiras? Só essa verdade alcançada já seria motivo, razão para que tipo assim, com adjetivos horrorosos, jamais ocupasse cargo público. Nunca deveria ser legislador um sujeito com histórico desse.

    Voltando ao meu momento, quando eu contemplava o mar. Percebi a chegado do Fonseca, cujos pais caiçaras eu conheci bem. Eram humildes e honrados. O pai era pedreiro e a mãe fazia faxinas, cuidava de casas. Esse conhecido foi logo me cumprimentando com tapinhas nas costas, também se mostrando admirado com o dia radiante. De repente entrou no assunto político, elogiando os parlamentares que votaram contra a possibilidade de regulamentação das mídias, lei que poderia punir as deslavadas mentiras que tanto mal causam à sociedade, inclusive favorecendo o surgimento de uma escória parlamentar a votar continuadamente contra os pobres e prejudicando o país como um todo; apoiando guerras, genocidas etc. Ah! Eu não aguentei! “Não me venha com essa lenga-lenga de novo, Fonseca. Você, batalhador como eu, continua defendendo o ponto de vista dos mais ricos, dos exploradores da nossa gente? Você sabia que essa base parlamentar reacionária, que você ajudou a eleger, está querendo privatizar até as praias e costeiras? Me poupe deste papo furado! Por que você não troca de óculos para poder enxergar melhor a realidade? As suas lentes estão desgastadas, superadas há bastante tempo. Deveria se envergonhar dessas “verdades” que você e outros tantos abraçaram. Basta de ser reacionário, né?”.  O Fonseca ficou sem palavras, mas eu não: “Agora vaza, deixa que eu continue sendo feliz aqui, contemplando tudo isto, pensando na vida e nos meus. É um favor que você me faz. Vaza daqui, suma logo”.

     Conclusão: esse conhecido de décadas é um miserável  como tantos outros que, graças às escolhas midiáticas e a preguiça em fazer boas leituras, deixaram de pensar por si mesmos, perderam a autonomia reflexiva e acabaram sendo direcionados pelos interesses e mentiras de uma reduzida classe social: a dos exploradores do povo. Essa gente, parcela considerável da nossa sociedade, deveria fazer uma revisão de vida, deixar de ser reacionária, querer um mundo melhor para todos. Esta é a grande utopia. Troquemos de óculos para enxergá-la. Conforme escreveu Pascal, “toda a nossa dignidade consiste no pensamento”.

    Última questão: Como ficarão as mentes que passarão pelas escolas cívico-militares? Pensa aí, Fonseca!