segunda-feira, 31 de julho de 2023

UM NOVO ANJINHO

 

Tia Astrogilda e tio Silvário - Arquivo: Os caiçaras contam

Olha a turminha e o Ângelo no cavaquinho - Arquivo Mana Ana


    Domingo chuvoso, final de julho. Mandei mensagem para a minha irmã: “Tá em casa?”. “Tô”. “Então vou aí daqui a pouco”. “Pode vir, mas vai ter festa julhina na rua, já estão montando barraca. Vai ser preciso deixar o carro antes, vir a pé até em casa”. E assim fomos (eu as minhas queridas Gal e Maria Eugênia) para uma visita, uma prosa de fim de domingo.

   Assim que descemos do carro, de um portão ali perto saiu um menino já vestido à caráter, de caipirinha. Não teve como eu não elogiá-lo. “Que lindo!”.    Ele prontamente agradeceu todo alegre e animado. Na calçada da minha irmã já estava montada uma barraca, onde uma menina ajeitava algumas coisas. Aquele menino foi para o outro lado, na calçada oposta, com brinquedos e varas, revelando que ali seria a barraca da pescaria. Notei que as prendas tinham jeito de ser os próprios brinquedos do menino lindo. A minha Gal comentou: “Depois, quem pescar devolve para o dono os prêmios. Deve ser assim, né?”.

   A mana Ana nos esperava no portão, foi logo dizendo que aquele menino era o Ângelo, neto do Wilson, meu colega de escola primária, no Perequê-mirim. Depois toda a família se mudou para a cidade de Santos. Era a primeira metade da década de 1970. Somos parentes: tia Astrogilda, a mãe do Wilson, bisavó do menino Ângelo, “era filha do tio Anastácio”, segundo disse o meu finado pai. Gente da praia do Pulso. Tio Silvário, “filho do  finado Estevão, morava no sertão da Caçandoca, mas nasceu no Saco das Bananas”. Papai nasceu e morou perto dele, onde era a posse do meu bisavô Francisco Félix, casado com Anna da Conceição. Caçandoqueiros, meus ascendentes, minhas raízes. Então comentei com a mana Ana: “Será que o nome do Ângelo foi dado em homenagem ao Anjinho?”. “Creio que sim”. Ela concordou com a minha dedução.

  Anjinho era o nosso amigo da infância na praia da Fortaleza. Ângelo era o nome dele, filho da Rosa (irmã do tio Silvário) e do Angelino Roseno, da praia Grande do Bonete.  Naquela época o casal já estava separado. Mais tarde mãe e filho também foram morar na praia do Perequê-mirim. Ou seja, nos reencontramos e convivemos outros momentos. Para encurtar a história, com o apoio da comerciante Zenaide, Anjinho se equilibrou na vida e terminou se casando com a nossa colega Izabel, filha da Maria e do Odócio, gente-raiz do Ubatumirim, mas habitantes da Pedra Branca, na Enseada. Prole numerosa. O triste vem agora: há uns dez anos,  quando podava uma jaqueira perto da sua casa, o nosso estimado Anjinho foi acidentado, massacrado pelo peso de um galho. Não teve jeito de sobreviver.

   Vida longa e feliz ao menino Ângelo que agitou a festa julhina na rua Ponciano Eugênio Duarte e certamente dormiu muito feliz! 

   Viva nossas raízes culturais! 

   Parabéns a essa geração novíssima de caiçarinhas!

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Mensagem reenviada pela mana Ana no dia da publicação:

Nossa Ana, que lindo!
Tomando café e já chorando aqui com a foto dos meus avós do início da reportagem. Que lindo! 
Realmente foi isso, entre tantos nomes que surgiram durante a espera, quando falaram Angelo não tivemos dúvidas em abraçar a ideia. Nome lindo e que remete a lembrança desse primo que era tão querido por todos...
Agradeço o carinho ❤️

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