sábado, 15 de janeiro de 2022

ESCOLA TEM DE SER UMA INSTITUIÇÃO POPULAR

Instrução - Arquivo JRS

     Alguns amigos, moradores do centro da cidade de Ubatuba, há muito tempo, sentiram necessidade de um espaço cultural onde pudessem ler e discutir em torno das maravilhas literárias. Vários bairros (Mato Dentro, Itaguá...) já possuia rotina escolar garantindo a instrução pública básica aos caiçaras. Assim começa a história do Gabinete de Leitura Ateneu Ubatubense em 4 de julho de 1875, cuja finalidade era a instrução de seus associados. O patrimônio era a biblioteca particular para uso exclusivo da associação. 
   
    No dia 8 de dezembro de 1886 chegou a essa cidade o médico carioca João Diogo Esteves da Silva. Prontamente ele se associou ao grupo do Ateneu. O que transcrevo a seguir é registro dele que Felix Guisard Filho atualizou e nos legou acerca da evolução da iniciativa daquele grupo de amigos.

   "Depois de uma existência de progressos sempre crescentes, durante seis anos, reformados os estatutos e de novo reproduzindo-se o artigo que facultava a instalação de uma escola noturna, logo que as condições o permitissem, a diretoria dessa época, desejando dar maior impulso ao objetivo de todos, isto é, instruir mesmo os estranhos à associação, instruir ao povo, resolveu levar avante a ideia de criar uma aula noturna nesta localidade. Em 1º de outubro de 1811 foi solenemente inaugurada a escola noturna para sexo masculino. [...] E, por deliberação da assembleia geral, foi franqueada a biblioteca a todos aqueles que viessem à sala de leitura nas horas diárias em que o estabelecimento se achasse aberto. Leitura dos livros em domicílio, só aos associados; leitura na casa, franca para todos os habitantes ou viajantes".  Ou seja, foi democratizado o acesso aos livros, ao saber que a pequena Ubatuba tinha em acervo. Até viajante, turista que estivesse uns dias por aqui, poderia entrar para uma leitura. Portanto, faz-se necessário criar e manter o funcionamento regular de espaços culturais, de bibliotecas.

 Continuando no registro do Guisard: "De simples biblioteca particular, modificou-se em instituição popular. Algum tempo depois, foi solicitado ao diretor das aulas que concedesse que senhoras e meninas pudessem assistir às explicações. Assim deliberou abrir uma aula para o sexo feminino, cujo programa era o mesmo que das aulas do sexo masculino".

   
Ruínas do Ateneu, na primeira metade do século XX -  Arquivo Guisard

    Agora, observando a imagem da primeira escola noturna em ruínas, leio a descrição do seu esplendor:

    "Na frente do edifício estão a sala de leitura e duas saletas anexas, em cuja paredes ostentam cinco mil volumes em estantes abertas e armários envidraçados, assim como em mostradores envidraçados coleções de numismática e minerais do local e da província. Em quadros elegantemente emoldurados avistam-se feitos gloriosos da guerra do Paraguai, o retrato de S.M. o sr. D. Pedro II, ainda moço, e seis bustos sobre bonitas peanhas representando Galileu, Safo, Rossini, Lincoln, Newton e Ambrósio Paré".

   Naquele espaço de leitura e estudo nasceu também a ideia de museu: 

    "Diversas peles de animais, ossos, grupos de lepidópteros etc., também se apresentam como elementos de um museu para o qual convergem os esforços afim de aumentar o campo de instrução. Em outra saleta à direita destas, grandes mapas da nossa costa brasileira, fornecidos pelo Ministério da Marinha, em quadros emoldurados singelamente, ornam as paredes. Vê-se em armário envidraçado uma linda coleção de vegetais marinhos, valvas de moluscos, gasterópodos, equinodermes e outras riquezas do fundo do mar, fazendo parte do museu. No lado posterior do edifício funcionam as diversas aulas da escola noturna. Numa sala espaçosa, com duas largas janelas para seu arejamento, são lecionados os alunos: é a sala A. Ao lado esquerdo, em outra um pouco menor, comunicando-se com esta por três largas portas, acham-se as alunas: é a sala B. a direita, em sala menor, reúnem-se, para aulas avulsas de francês, de redação e composição da língua nacional, os moços que não estão sujeitos à matrícula: é a sala C".

   A "parte posterior do edifício" era a que recebia a brisa do mar, de onde se avistava a praia de Iperoig, do Cruzeiro. Que prazeroso devia ser! Hoje, a escola herdeira desta história é a Escola Estadual Dr. Esteves da Silva. Fica na beira do Rio Grande, próximo do Mercado de Peixe. 

   Pergunta: por que não foi preservado o Ateneu Ubatubense?

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