sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

EM BUSCA DE PEIXE

 

Em busca de peixe - Arquivo JRS


       Era tempo de Natal. Eu sabia disso porque ouvia uns reclames nos intervalos da programação, no rádio, mas também porque estava acontecendo rezas pelas casas e o grupo de Reisado varava madrugada em cantorias e visitas aos presépios das famílias do nosso lugar. Eu sentia que estava bem próximo porque papai chegou trazendo um garrafão de cinco litros de vinho, tipo Sangue de Boi. Era doce, mas mamãe adoçava mais ainda quando ia bebericar e dar um pouquinho para os filhos. Ah! No mesmo dia da chegada do garrafão, outra novidade: bolo de caixa. Ou melhor, massa pronta para preparo de bolo. Boa nova que mais gente quis conhecer. O resto era tudo igual: arroz, feijão, farinha, peixe, banana, galinha ou pato e mais nada. Faz tempo isso!

     A tradição deu um jeito de Jesus nascer no dia 25 de dezembro. Na Europa, segundo contam, era comemorado o nascimento do Sol. Portanto, era a maior festa da Antiguidade. Com o cristianismo ocupando os espaços, as festividades ganharam novos significados. Dentre as comemorações, está o Natal. O importante é pensar na criança, ou melhor, nas crianças que vêm ao mundo. Elas não pediram, mas nós as geramos porque queremos uma descendência, uma continuidade de vida em sociedade. Enfim, um mundo bom depende de gente boa. No fim , a frase marcante do tio Tonico: "Que o Natal seja renovação dessa esperança em uma nova sociedade, onde ninguém vai passar fome e sofrer injustiças. Assim educamos os nossos filhos nesta comunidade". 

    Artelino escutou essa mensagem já embarcando na canoa. "Depois a gente conversa mais, Tonico. Agora vou no tresmalho, em busca de peixe porque, de acordo com os meus antigos que vieram da Espanha,  Natal sem peixe não é Natal, não é mesmo?"

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