domingo, 13 de junho de 2021

VOCÊ JÁ VIU MUÇURANA?

 

Mestre Élvio (Arquivo JRS)


      Um dia, no Museu Caiçara, foi promovido uma roda de contação de causos. Assim que começou, veio um em cima do outro. Mestre Élvio tinha um estoque deles. O tempo voou; faltou até para escutar mais. Sei que muitos foram guardados, pois todos queriam contar  e escutar. A minha gente é assim, se anima quando se encontra. Um causo que guardei, deixei de fora da prosa, foi o da muçurana, do Sebastião Adolfo, pescador de Caraguá. Conto agora. Ou melhor, ele conta:

     Quando eu era pequeno, acatando a educação do meu finado pai, era preciso estudar e trabalhar. Num determinado dia, quando eu estava indo para estudar, ele disse:

   - Se a professora não for dar aula hoje, você pega a enxada e vem ajudar a carpir esse eito de café. 

  Parece que meu pai estava adivinhando. Minha professora, acometida de um resfriado bravo, não daria aula naquela semana. E assim voltei para casa na intenção de dar uma força ao meu pai. Quando caminhava para a roça, deparei com uma coisa estranha que atravessava a estrada. Fiquei paralisado vendo aquilo que mexia, mexia e ia atravessando, da grossura de um garrote. Apurei a vista e vi que se tratava de uma cobra de tamanho avantajado. Eu nunca tinha visto coisa igual. Ela atravessava, atravessava e não parava de atravessar. Eu não tive coragem de atravessar pulando por cima dela. Teria de explicar para o meu pai porque estava atrasado. Para você ter uma ideia, a cobra começou a atravessar mais ou menos às 8:30 e só foi terminar por volta das 10 horas. Veja como era grande a danada! Eu estava com medo, podia apanhar do meu pai pelo atraso. Naquele momento ele veio, me encontrou ali, ainda parado. Me perguntou o que eu fazia naquele lugar, no meio do caminho. Então expliquei que a professora não foi dar aula, mas que acontecera o imprevisto da danada da cobra que  atravessou naquele lugar. Ele acreditou porque já conhecia essa cobra. Era a muçurana. Ela tem cabeça grande, é forte, de cor azulada. Fazia medo mesmo. Por isso escapei de uma coça.


    Cobra grande existe mesmo. Mas igual a essa muçurana do Tião só essa mesma! Medalha de ouro para o velho pescador. O saudoso Genésio, do Camburi, me contou de uma que morreu na estrada, assim que a BR-101 foi inaugurada: "Um caminhão pesado passou por cima dela, de noite. Amanheceu morta, estirada no asfalto. Ela pegava do mato até a metade da pista; os carros precisavam ir pelo outro lado. Todo mundo foi lá ver". Resolvido: a cobra do Genésio fica em segundo lugar (por enquanto!)

    

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