sábado, 13 de junho de 2020

A GENTE MERECE, CARLOS!


Sabiá na janela (Arquivo L. L.)

                Dias atrás recebi uma imagem do amigo Carlos Lunardi, morador de Caraguatatuba, o município vizinho. “Bom dia Zé, como é o nome desse pássaro? Não é o pássaro preto porque o bico é amarelo”. Estava ali perto, numa das janelas do prédio.  Na hora pensei no sabiá-una (sabiá-preto). “Tem mais jeito de sabiá-una ”.

                Outro dia, na beira da estrada aqui perto, avistei uma caneleira florida. É uma árvore imensa, cujos frutos sabiá-una gosta muito. Então pensei no sabiá na janela de um edifício, quase no centro da cidade: o que será que ele estava querendo ali? E voltei a pensar na fruteira dele que ainda está em flor. “É sempre no mês de agosto que o sabiá-una desce o morro. Sabe por quê? Porque a caneleira está cheia de frutos maduros. Ele vem para se alimentar. Depois volta para o mato, bem no alto dos morros, onde se criam. Você nunca verá um ninho de sabiá-una aqui em baixo, por perto de nós”. Quem me explicou isso foi o Mané, irmão do  Nicodemos, lá do Sertão do Ingá, caiçaras que eu muito admiro. “É mesmo! Me lembrei de quando era criança! Era assim mesmo!”.

                Quando eu era criança, o mato estava bem perto da minha casa. Ali em volta, além das caneleiras, também tinha jiçaras, que dão o melhor palmito que conheço. Seus cachos, repletos de coquinhos pretos, também atraiam os passarinhos (tiribas, sabiás, tucano, jacu...). Então, o mês de agosto era uma algazarra o dia inteiro porque a alimentação deles era farta. Mesmo que sempre tivesse alguém estilingando ou bodocando os coitados, eles pareciam não diminuir enquanto durassem os frutos. O melhor do sabiá é o seu canto! Quase sempre a mamãe pediu silêncio para nós ao distinguir uma cantoria especial. É, tem disso! De vez em quando aparecia algum deles com um canto mais bonito que os demais. Mamãe era especialista, tinha um ouvido muito bom para identificar algo que fazia a diferença entre tantos passarinhos cantando. Então, quase sempre ela punha o dedo esticado sobre os lábios: “Chiiiiuuu, escutem. Tem um cantor pedindo a nossa atenção. Reparem que ele não está muito perto, mas vem chegando na caneleira. Daqui a pouco ele estará aqui,  no cisqueiro. A gente merece escutar essa maravilha!”. E a gente prestava atenção nos sons.  Assim fomos aprendendo a apreciar os diversos passarinhos e seus maravilhosos cantos. Nos dias de hoje, nas árvores que eu plantei, a “minha reserva particular” conforme diz a mana Ana, sempre tem um som especial. Nesta semana parei ao ouvir o trinca-ferro. Ontem, no ipê, cantarolou por quase uma hora um bonito-fogo, também conhecido por gaturamo. “Ainda bem que estou em casa!”. Desconfio que o passarinho avistado pelo meu amigo, numa janela da vizinhança, deve ter sentido cheiro de banana madura. Talvez estivesse com fome. Na próxima vez, Carlos, espero que o sabiá-una venha na sua janela para uma cantoria. Você merece! A sua família merece!

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