quarta-feira, 13 de agosto de 2014

QUE GUISADO?

Avião do Jean-Pierre Patural no Ubatumirim - 1960 (Arquivo Patrícia Patural)


O caiçara sempre foi de pilheriar, de brincar. “Gosta muito de tirar sarro”. Quase sempre tudo acaba em risadas. O título deste, por exemplo, vem de um embaraçamento provocado pelo Valdemar “Sabiá”, nos idos de 1970, ao escutar o professor Osmildo citando o empresário Félix Guisard: “O senhor disse guisado, professor? Que guisado?”. Todos riram, mas a resposta do mestre foi um cascudo no cocuruto do engraçadinho. Estávamos no quarto ano primário.  Agora, depois de quarenta anos do ocorrido, lendo o livro de Cláudia Martins, com o título de Félix Guisard – a trajetória de um pioneiro, achei este importante complemento:

       “O sobrenome Guisard, herdado do pai, não tem um significado próprio, é o plural de ‘Guise’, uma liga católica formada na França durante os Reinados de Henrique III e Henrique IV, no século XVI”. Acho que está respondido ao “que guisado?”.

       O Félix Guisard, último proprietário do “Casarão da Fundart”, era neto de franceses. Seu avô, Félix Louis, em 1855 veio tentar a vida no Brasil, um país que oferecia chances de enriquecimento, sem guerras. Em 1861 este francês estava se casando em Teófilo Otoni, com uma jovem francesa. E foi perseguindo as melhores chances que essa família foi se aproximando da nossa terra caiçara. Já era Minas vindo para São Paulo!
       Para resumir o espírito empreendedor dos Guisard, sob sua influência direta, em 1927 foi fundada a Companhia Industrial de Taubaté (CTI). “Dinheiro atrai dinheiro”, francês atrai francês. Assim, sendo proprietário do Sobrado do Porto em Ubatuba, Guisard Filho nos apresentou a Família Patural. Era a metade do século XX; as pessoas sabiam enxergar o potencial da nossa cidade!
       Assim está na entrevista que há anos eu fiz com a saudosa Silvia Patural:

        “Através de um convite de uma família muito amiga -os Guisard - viemos, em 1953, conhecer Ubatuba. Eles eram os donos do Casarão, onde está atualmente a sede da Fundart. Foi em uma de suas casinhas, atrás do Casarão, que nós ficamos hospedados. Meu marido - Jean-Pierre - se entusiasmou pela cidade.  É preciso lembrar que ele adorava o mar; era um velejador em nossa terra natal. Ainda temos a foto de seu primeiro veleiro na região do Canal da Mancha, Bretanha, norte da França. Logo se empolgou em investir aqui.
             Em 1954 nós partimos à procura de um lugar que, além de agradável, oferecesse as condições propícias de cultivo e de instalações. Meu marido era um empreendedor. O lado sul do município logo ficou fora de cogitação. Motivo: a abertura da rodovia Ubatuba-Caraguatatuba estava sendo concluída, fazendo com que os preços das terras daquele lado encarecessem muito. Então nos falaram do lado norte, das vastas áreas e de outras vantagens”.

            Ai, meu Deus! Que guisado!!!

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