sexta-feira, 1 de agosto de 2014

ESPAÇOS NOSSOS

       
Eis a Capela das gostosas festas da minha infância!. (Arquivo JRS)
      Ao escrever relembrando as pessoas e lugares significativos da minha infância, eu faço com o maior respeito. Se em alguma parte pode haver interpretação negativa, é da cabeça de cada um. Quem me conhece sabe os meus princípios, o meu orgulho de ter recebido as muitas contribuições ao indivíduo que sou hoje. Até as “pisadas de bola” da parte do meu finado pai eu consegui dar a volta por cima. São as fraquezas humanas, né?

    Na Praia do Perequê-mirim, a nossa família viveu por dez intensos anos. Ali eu conheci os primeiros muros na vida. Nenhum era cercando as pobres casas de caiçaras. Por isso circulávamos tranquilamente.

      Nesta semana, passei reparando onde morava o Seo Bermiro e sua prole. Era como uma vila: tinha a casa do Agenor e do Altino. Também perto dali morava a Dona Margarida e seu neto Tico. Tudo era areia!

     Ainda no terreno arenoso, vizinhando com a Capela de Sant’Ana, moravam o Dito Neves e o Seo Targino. O quintal deste era outra vila dentro do Perequê, com os filhos (Dico, Euclides, Toninho...) se instalando ao redor da casa do velho pescador.

     Ah! O Dito Neves merece uma parada especial! O seu filho Joãozinho era meu companheiro de escola. Atentado que só! Foi nas costas dele que eu vi o professor Oberdan quebrar uma régua grande, de madeira.

    Os cajueiros do quintal do Dito Neves eram uma atração especial! Tinha do amarelo e do vermelho; ficavam carregados no verão. Nunca mais vi algo assim no nosso município! Hoje, recompondo aquele lugar da minha infância e as minhas lembranças, está uma escola infantil. Vi que  ao menos um cajueiro permanece sobre a terra.


      O Dito Neves era companheiro de caçadas do papai. Eles vinham do mato com aqueles porcos e, ali mesmo, na beira do rio que passava nos fundos da sua terra, faziam a limpeza (pelavam, cortavam, dividiam com os outros). Ao chegar em nossa casa, meu pai separava algumas vasilhas, colocava uns pedaços nelas e distribuía as tarefas: “Zezinho leva este tanto para o Germano. Mingo, pega esta aqui e deixa na casa do Jango. Jarico vai até o Edno da Elvina e fala que eu mandei esse pedaço para eles”. Era assim a nossa comunidade caiçara.

         A propósito: será que existe ainda aquele tranquilo rio onde tantas vezes eu apreciei os caçadores trabalhando e a Dona Joaninha lavando suas roupas e vasilhas?

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