segunda-feira, 9 de junho de 2014

AS ÁRVORES...

Laurentina e Leovigildo,  em 1960 (Arquivo JRS)

        Há cinco anos sepultamos dona Laurentina, a nossa mãe. Agora, no dia 8 de junho,  a terra recebeu o nosso pai Leovigildo. Este que sempre repetiu para nós: “Para morrer basta estar vivo”. Em conjunto, a partir de 1960, essas árvores nos deram a existência (Ana, eu, Mingo, Jairo, Clóvis e Guinho). As árvores se foram... Os frutos delas vingaram nessa luta chamada VIDA. Hoje, essas outras árvores já têm frutos crescendo e amadurecendo. Colheitas vêm... colheitas vão...   "É a lei da vida”.
                Papai descendia de Estevan, da Caçandoca, e de Martinha, do Pulso. Mamãe era genuinamente filha da Fortaleza, uma das preciosidades de José Armiro e de Eugênia.  Estas praias (Caçandoca, Pulso e Fortaleza) estão em nós. Porém, eu e meus irmão começamos uma nova fase na praia do Sapê e fomos muito marcados pela convivência na praia do Perequê-mirim. Resumindo:  “a maresia está entranhada em nós.”
        Nossos pais se esforçaram para nos criar num padrão de moral adequado à sociedade. A simplicidade caiçara do papai dizia que mais valia era o trabalho honesto. Já a mamãe, além do trabalho honesto, sempre deu destaque ao respeito, à vida familiar, às atitudes coerentes e sem vícios. Já dizia naquele tempo, quando entrávamos na adolescência: “Não bebam, não tenham vícios, não desprezem as pessoas. Continuem corretos em seus ofícios. Não desperdicem dinheiro. Assumam suas  famílias.  Sejam responsáveis e nunca apareçam em minha casa com filhos para eu criar”.
       Ao fim de um ciclo avaliamos as contribuições dos nossos pais e de tantas pessoas em nossas vidas. Tem um fato, a respeito de papai,  que não me canso de relembrar. Eu era pequeno, tinha sete anos de idade. Vivíamos na Praia da Fortaleza, entre os roçados e o mar. Éramos bem pobres. Numa tarde, ao chegar do serviço, vendo um carrinho de plástico estragado  no terreiro da nossa casa, foi logo perguntando de quem era aquilo. Eu disse que havia achado na beira do caminho, “no bananal, perto da casa do Jorge”; que peguei e trouxe para brincar. No mesmo instante ele ordenou: “Se ninguém deu para você, isso não é seu. Leve agora mesmo e deixe no mesmo lugar onde encontrou. Mais pra frente eu compro um carrinho de plástico para você."  E foi o que eu fiz. Em outras ocasiões futuras, quando a cobiça aparecia em meu pensamento, eu me recordava dessa lição aprendida no morro, perto da Badeja, onde uma casa parecia apreciar toda a Baía da Fortaleza.
       Durante o velório, na parte da noite, os que lá permaneceram puderam partilhar de histórias e causos. Em ocasiões assim os caiçaras revivem tantas memórias!

      Agradeço, em nome de todos os irmãos, a todos que foram solidários nessa situação inevitável para qualquer vivente. Infelizmente não conseguimos avisar a todos os parentes e amigos desse homem mais conhecido por “Carpinteiro”.

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