sábado, 26 de abril de 2014

ASSOBIAR GUAIÁ?!?


Eu  e tio Tonico tirando marisco na Ponta da Fortaleza. (Arquivo JRS)

A partir de dois amigos - Roberto Ferrero e Peter Németh -  ambos  enamorados da cultura caiçara e localizados na Praia da Enseada, resolvi escrever um detalhe da prática de mariscar na costeira, de pegar guaiá, um dos caranguejos mais apreciados na alimentação caiçara. 
            Eu, na minha infância não tão distante, era a companhia da Vovó Eugênia nas marés secas. Ou íamos na Costeira do Cambiá ou nos juntávamos a vários outros na Costeira do Recife. Não se perdia as vazantes das luas Cheia e Nova.  Quanta fartura!

        “Tem que assobiar para ele sair da toca, eu conheço a linguagem e a técnica. Mas mesmo assim não peguei tantos. Talvez 20 deles, no máximo. Uma manhã inteira com essa tarefa, para somente 20 deles. Foi pouco porque eu só escolho os machos e grandes. Porque eu acho que não é certo matar as fêmeas nem os jovens. Na verdade eu não acho. Eu sei. Um macho pode fertilizar várias fêmeas. Uma fêmea só pode ser fertilizada uma vez só”. (R. Ferrero)

“Ferrero! Se todos tivessem essa consciência, não seria preciso fiscalização!!! Fica a dica: dos 20 capturados escolha os 2 maiores e solte, pois os maiores são os mais aptos geneticamente e os que já passaram pela seleção natural (esgoto, etc). Esses genes devem ser perpetuados. Inté”. (P. Németh).

          É preciso assobiar para chamar o guaiá para fora da toca. É isso mesmo!
          É assim:
        
          Fiiififififiiiiii.....Fiiiififififiiiii...Fififififiiiiii...Fifififiiiii....
          Fiiiififififiii....Fiiiifififiiiiiii....Fiiififififiiiii....Fiiifififiiiii.

          Esse assobio tem letra. Assim aprendi:

      “O guaiá saiu da toca.....Coitadinho não tem pai....
       O guaiá saiu da toca.....Coitadinho não tem pai”.
   
          Agora é que vem a complementação ao diálogo dos dos amigos. Pode ser que eles, tendo mariscado no Canto da Prainha do Góis, na Costeira do Paru,  também saibam disto: 

          Os antigos caiçaras, em prosseguimento ao que aprenderam da cultura dos tupinambás, já respeitavam o ciclo da reprodução dos animais. Em relação à “pegar guaiá’, sabiam que as fêmeas deveriam ser soltas para não diminuir a oferta nas próximas luas, para o futuro. É por isso que escolhiam os machos para a alimentação. Consequentemente, o pai daquele guaiá já tinha ido para a panela dos caiçaras. “Coitadinho não tem pai”. É isso! Os notadamente machos não escapavam das habilidosas mãos que os surpreendiam nos “paus de iscas”. Tudo isso porque se encantavam pelo assobio! 

           Como era gostoso ouvir os caiçaras assobiando nas costeiras nas marés secas! Melhor ainda era rodeiar a imensa panela cheia de guaiás cozidos! Coisas da nossa cultura!

Um comentário:

  1. Foi nessa costeira do Góis/Parú que eu me iniciei mesmo Zé Ronaldo! Ai que saudade dessa infância maravilhosa! Um grande abraço!

    ResponderExcluir